Se na representatividade da população do Rio Grande do Sul as mulheres estão um passinho à frente, respondendo por 51% dos 11,36 milhões de gaúchos, no mercado de trabalho a coisa muda de figura. No recorte específico das ocupações ligadas à agropecuária, há uma predominância masculina. Eles são 71% de 498,14 mil e elas, 29%, mostra levantamento sobre desigualdades de gênero elaborado pelo Departamento de Economia e Estatística da Secretaria do Planejamento e apresentado nesta sexta-feira (12). A pesquisadora Daiane Boelhouwer Menezes explica que o raio X usa como base dados do Censo Agropecuário, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua, do Cadastro Único, da Pesquisa Nacional da Saúde e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Percentualmente em menor número na atividade, as mulheres também têm representatividade inferior no comando das propriedades, quadro presente também no Brasil, mas que se acentua no Estado. Dentro dos estabelecimentos da agricultura familiar, que são 80,5% do total do RS, apenas 12,2% têm chefia feminina. Entre os fatores que podem ajudar a explicar essa diferença está a dificuldade da própria mulher de se enxergar como a responsável. Daiane lembra que, para essa análise, são usadas informações do censo agropecuário, a partir de uma pergunta feita pelo recenseador — com resposta que parte do entrevistado.
— Geralmente, quando tu vai fazer uma pergunta sobre quem é o chefe da família, sempre se remete ao homem, não à mulher. Tem um pouco disso ainda, de não se reconhecer como representante da família — acrescenta Clarice Böeck, extensionista da Emater.
Outros extratos de análise fazem parte da pesquisa, como idade, raça e escolaridade. Há concentração em faixa etária maior entre os que atuam nessas atividades. No caso das mulheres, a faixa de maior percentual fica entre 55 e 64 anos, enquanto a dos homens, acima dos 75 anos.
— A pesquisa é importante para nos dar um norte do quanto as mulheres estão atuantes nas suas propriedades agrícolas e no sustento das famílias. É importante estarmos atentos para fazer um trabalho mais efetivo no combate às desigualdades no campo — pontuou a secretária da estadual da Agricultura, Silvana Covatti, sobre o levantamento.
Subsecretário de Planejamento, Antonio Cargnin reforçou que as políticas públicas devem ser permeadas por "fatos e dados". Com o objetivo de obter mais detalhes da participação feminina, a Emater deu início a uma pesquisa que se estenderá até janeiro de 2022 com mulheres assistidas pela instituição. Serão 5 mil entrevistas em 460 municípios, envolvendo mais de 500 extensionistas em sete eixos diferentes. A expectativa é de que o resultado possa ser apresentado em meio à Expodireto, no início de março do próximo ano.