Em meio ao cenário de pandemia, dois fatores combinados acabaram modificando a receita tradicional do consumo de produtos feitos com trigo. Detalhado durante o Fórum Nacional do cereal, realizado de forma virtual nesta segunda-feira (26), um estudo encomendado pela Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi) mostra o peso do distanciamento social e do pagamento do auxílio emergencial sobre a compra desses itens. Com efeitos ainda presentes neste ano, quadro fez com que 2020 registrasse um aumento de 9,08% em faturamento e de 5,35% em volume no setor.
— O desempenho não deve ser melhor do que 2020, mas o ano passado abriu momentos bons. Acreditamos que vamos chegar a um crescimento de 3% em volume e de 5% a 7% em faturamento — projeta Claudio Zanão, presidente da Abimapi, sobre este ano.
Houve mudança de hábitos em razão da conjuntura nos quatro grupos de alimentos que têm no trigo a principal matéria-prima. A que registrou maior aumento de apetite foi a de pão industrializado: a quantidade vendida foi 11,65% maior do que em 2019. Embora com fatia menor do que os de padaria, ganhou espaço no período de distanciamento social, pontua Zanão:
— Teve o período em que esses estabelecimentos ficaram fechados. As pessoas estando mais em casa, cresceram as ocasiões de consumo. E o pão industrializado tem uma vida útil maior, pode ser armazenado.
No pico do período de distanciamento social (as quatro primeiras semanas, entre março e abril de 2020), as ocasiões de café da manhã cresceram 27% e as de lanche, 30%.
As massas também tiveram aumento de 6,16% na quantidade vendida. O menor avanço em volume foi o de biscoitos, 2,2%. Reflexo da perda de alguns canais tradicionais de consumo, como escritórios e lanches escolares. Mesmo assim, se mantiveram representativos: 99,7% das residências pesquisadas — ou 57,7 milhões de lares — compraram biscoito no ano passado, com uma média de 24 vezes no ano e gasto médio anual de R$ 236. Os maiores índices dos quatro grandes grupos (biscoitos, massas, pães e bolos industrializados e farinha de trigo).
A farinha de trigo — muita gente se aventurou na cozinha no período — foi outro item com boa procura. Foram adquiridas em 89% ou 51,5 milhões de lares, com um gasto médio anual de R$ 34,90 e frequência de seis vezes no ano.
Para 2021, é do campo que vem uma perspectiva promissora. O aumento da área cultivada e a estimativa de produção maior no Brasil tendem a amenizar os custos das indústrias — com impacto no preço ao consumidor. O país não é autossuficiente e precisa trazer parte do produto de fora.
— O trigo acaba sendo dolarizado pela dependência externa, tem preço baseado em volume da safra e câmbio. Maior volume nacional ajuda a manter o preço mais estável — explica o presidente da Abimapi.