O jornalista Fernando Soares colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Se no ano passado o Rio Grande do Sul fechou 20,2 mil postos de trabalho com carteira assinada, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o agronegócio foi na contramão e teve a maior geração de vagas formais em mais de uma década. Em 2020, o segmento criou 11,6 mil novas posições, impulsionado pelas indústrias de carnes e máquinas agrícolas. O resultado é o melhor desde 2007, quando o saldo chegou a 13,7 mil novos vínculos.
Os números foram levantados pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria de Planejamento, a partir do Caged e levam em consideração todas as atividades relacionadas ao agronegócio dentro e fora das porteiras das propriedades. Ou seja, a conta inclui camadas da indústria e dos serviços que tenham relação com o campo. A agropecuária, especificamente, teve saldo positivo de 637 contratos na temporada passada.
Mas como o agronegócio gaúcho conseguiu fechar 2020 com balanço positivo e destoar do contexto geral do Estado, mesmo em um ano de pandemia e estiagem derrubando a produção gaúcha? Pesquisador do DEE, Rodrigo Feix explica que a situação passou diretamente por dois setores com forte presença no Estado e que foram beneficiados pela demanda acima da média.
No caso da indústria de carnes, em especial nos segmentos de suínos e aves, as exportações influenciaram o desempenho. A valorização do dólar, que rompeu a barreira dos R$ 5, e os crescentes embarques para a China puxaram o faturamento das empresas e levou à criação de 6,6 mil vagas nos abatedouros.
Já a fabricação de máquinas e equipamentos agropecuários teve saldo positivo de 1,7 mil postos. O nicho se beneficiou de um cenário de queda nas taxas de juros, valorização das cotações dos grãos e safra recorde colhida pelo Brasil, apesar dos problemas nas lavouras gaúchas. Mais capitalizado, o agricultor brasileiro foi às compras.
– São dois setores que conseguiram se descolar desse cenário de estiagem do Rio Grande do Sul. A indústria de carnes pela demanda externa e a indústria de máquinas pela demanda nacional – contextualiza Feix.
O agronegócio do Rio Grande do Sul encerrou 2020 com estoque de 337 mil empregos formais, o que equivale a 13,5% de todos os vínculos com carteira assinada existentes no período, segundo o Caged. A indústria de carnes é a maior geradora de vagas vinculada ao setor, atingindo 66,9 mil postos de trabalho, o maior patamar já registrado.
Na sequência aparecem o comércio atacadista de produtos agropecuários (43,5 mil), a produção de lavouras temporárias (31,3 mil) e a fabricação de máquinas e equipamentos agrícolas (26,9 mil).