É com boa perspectiva que o Rio Grande do Sul dará a largada, no próximo mês, à safra do camarão-rosa na Lagoa dos Patos, principal ponto de pesca. A variedade pescada na Lagoa dos Patos tem como origem o litoral de Santa Catarina, explica Luiz Felipe Dumont, professor do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg) e pesquisador do tema. As larvas do crustáceo são transportadas na direção Sul e usam ambientes como o da lagoa para a fase de desenvolvimento juvenil.
Se na agricultura, a estiagem na primavera do último ano tem somado prejuízos, na pesca do camarão, favoreceu a maior entrada de água salgada na lagoa. Em razão da pouca chuva, a lagoa ficou com menos água doce e com mais espaço para que a água do mar — que carrega as larvas — conseguisse adentrar.
Em 2020, este fenômeno ocorreu principalmente a partir da segunda quinzena de outubro na região. Conforme esclarece Dumont, as entradas "se mantiveram frequentes e bastante intensas até o presente momento".
— Portanto, existe uma boa expectativa para a safra de 2021, possivelmente com camarões ainda com tamanho muito variado no início da safra, tendendo a melhorar ao longo do período — projeta.
Contando os dias
Em Rio Grande, ao sul da Lagoa dos Patos, já há embarcações na água, barracas preparadas — a pesca é feita à noite — e equipamentos sendo ajustados, conta o presidente da colônia de pescadores Z1, em Rio Grande, Nilton Mendes Machado:
— No mês de janeiro, os pescadores terminam de se organizar, mas a grande maioria já está com tudo arrumadinho, esperando a liberação da safra.
Com a tradição da pesca na família e em contato com quem realiza a atividade na região, Machado avalia que a safra de 2021 pode superar a de 2013, considerada a melhor dos últimos anos. Desde então, episódios de chuva e enchentes limitaram a produção.
Quanto ao preço pago ao pescador, afirma que é um assunto que preocupa já que o valor não tem tido reajustes. Para o presidente da Z1, o ideal seria que a safra iniciasse com camarão com casca sendo vendido a R$15 por quilo — em 2020, chegou, no máximo, a R$10, e por um curto período.
A pesca se estende até o final de maio na Lagoa dos Patos, e as maiores quantidades de camarão tendem a estar nas regiões próximas de Rio Grande. Com o andamento da safra, as capturas se deslocam mais para o norte da lagoa, podendo chegar à região de São Lourenço do Sul.
A projeção é de alcançar uma produção “eventualmente um pouco acima da média histórica (2,5 mil toneladas) e possivelmente acima do ano passado (1,5 mil toneladas)”, estima o pesquisador da Furg.
Há fatores, no entanto, que podem fazer com que a expectativa não se confirme. O pesquisador elenca a pesca ilegal, principalmente com redes de arrasto, chuva intensa e concentrada que leve os camarões para fora da lagoa e presença de frente fria que afete muito a temperatura — as mudanças no tempo podem aumentar a mortalidade dos camarões.
*Colaborou Isadora Garcia