A relevância da marca histórica de 1,021 milhão de toneladas de carne suína embarcadas pelo Brasil em 2020 vai além do número propriamente dito. É um volume inédito, sim, mas que indica outras conquistas. Quarto maior exportador mundial dessa proteína, o país teve um crescimento significativo das vendas externas no ano passado, 36,1%, e se aproximou do terceiro colocado, o Canadá. E a receita acompanhou o ritmo: foram US$ 2,27 bilhões, US$ 673 milhões a mais do que em 2019.
— É um número expressivo, importante. Demonstra que, mesmo em um ano de pandemia, o Brasil foi chamado e conseguiu atender. Reforçou a confiança no país — avalia Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
O dirigente reforça que, mesmo com o crescimento da fatia de participação no mercado externo, o interno não deixou de ser atendido, consolidando-se como o grande parceiro do setor — a disponibilidade "dentro de casa" cresceu 0,5%.
O detalhamento desse resultado final das exportações ainda virá nos próximos dias. Mas em linha com os dados até novembro, a China deve ser confirmada como principal destino do produto. Santin reforça que foi em 2020 que se sentiu o maior efeito da redução do rebanho suíno chinês em razão da peste suína africana. A doença começou a se espalhar em 2018. Em 2019, o país asiático ainda conseguiu usar parte da produção local no abastecimento, que foi ficando mais escassa com o passar do meses e inflou demanda e preços no final daquele ano.
— Dois mil e 20 foi o ano do pico do déficit da China para a carne suína. Demandou muito, não só do Brasil — acrescenta José Roberto Goulart, presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Rio Grande do Sul (Sips).
O Estado é o segundo maior exportador dessa proteína animal, com fatia de 25,7% do total embarcado nos 11 meses de 2020. Nesse período, o volume e a receita das exportações cresceram mais de 50%. E ficam em território gaúcho tem metade das 16 plantas brasileiras habilitadas a vender para os chineses. Goulart não vê perspectiva de eles reduzirem volume de compra neste ano. O que pode vir, acrescenta, "é um pouco de pressão gradativa no preço".
Sobre o risco de ter quantidade tão significativa direcionada para o país asiático — por vezes comparada à representatividade que o mercado russo teve no passado, Goulart avalia:
— Tem uma diferença bem interesse entre Rússia e China: um tem 140 milhões de habitantes, o outro, mais de 1 bilhão. Quem tem 1,4 bilhão de habitantes, tem demanda.
A sustentabilidade da demanda chinesa é corroborada pelo presidente da ABPA, que cita projeções do Rabobank. Em processo de recuperação do plantel perdido para a peste suína africana, o país asiático deve levar, pelo menos, até 2025 para chegar ao patamar pré-doença. Ainda assim, teria déficit de 3 milhões de toneladas, em permanecendo os atuais níveis de consumo.