Não é apenas o produtor rural americano que acompanha de perto o desfecho da eleição presidencial nos Estados Unidos. O resultado da disputa travada entre o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden traz efeitos para o mundo todo e desperta a atenção, em especial, do agronegócio brasileiro. Mais do que parceiros, os dois países são grandes fornecedores globais. E competem entre si pela preferência mundial.
— Quando se trata de mercado, os EUA são vistos muito mais como concorrentes do que como clientes do Brasil — observa Ernani Carvalho, sócio da consultoria Bateleur.
Em meio à guerra comercial dos americanos com a China, o Brasil ganhou a preferência e a valorização de um cliente gigante. Com o aumento da demanda na pandemia, a valorização de commodities e a variação cambial, o produto ficou ainda mais competitivo.
— O agro brasileiro ocupou muitos espaços que eram dos americanos. Pela competência que tem e pela questão do dólar — avalia a produtora gaúcha Yara Suñé, que está morando nos EUA, onde estuda e comando a propriedade em Lavras do Sul de forma remota.
Ela entende que, independentemente da forma de atuação, no cenário pós-covid-19, ambos colocarão os interesses nacionais americanos à frente no pós-pandemia em caso de vitória.
Historicamente apoiadores do partido republicano, os produtores têm manifestado a preferência por Trump. Que vem injetando somas expressivas para viabilizar o setor — US$ 50 bilhões só na pandemia. A política protecionista, com pesados subsídios, é um ponto de atenção para o agro brasileiro.
Os democratas costumam investir menos em incentivos ao segmento, e a perspectiva é de retomada de acordos multilaterais. Ao mesmo tempo, sinalizam forte cobrança em relação à preservação ambiental. Questões que o Brasil também observa.
— Acho que o Brasil tem potencial de ocupar o protagonismo, qualquer que seja o cenário eleitoral americano. Estamos fazendo o maior esforço para manter o canal de diálogo aberto com os dois candidatos — afirma Eduardo Daher, diretor-executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), para quem o risco mais iminente é o da judicialização da disputa, podendo deixar o mundo em um “limbo político”.