Uma eventual vitória de Joe Biden na disputa pela presidência dos Estados Unidos deve provocar poucas mudanças nas relações comerciais com o Brasil, mas terá "consequências imediatas" em aspectos como política ambiental, além de causar o "isolamento" do governo brasileiro em assuntos relacionados à agenda de costumes, como religião e aborto.
A avaliação foi feita pelo ex-embaixador Rubens Barbosa em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, nesta terça-feira (3). O diplomata, que é consultor de negócios e presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), já ocupou as embaixadas do Brasil em Washington e Londres.
Para ele, a reeleição de Donald Trump "reforçaria a política externa" seguida pelo governo do presidente Jair Bolsonaro, com alinhamento entre os dois. Já o triunfo do candidato democrata "complica um pouco".
— Primeiramente, vai acabar o relacionamento direto que (o presidente Jair) Bolsonaro tem com Trump, haverá afastamento direto entre os presidentes. Segundo, haverá maior isolamento do Brasil nos organismos internacionais, principalmente em relação a essa agenda de costumes, como família, religião e aborto. Certamente vai mudar a política americana, e o Brasil vai ficar mais isolado, com países da África e do Oriente Médio — disse.
Segundo Barbosa, contudo, a principal mudança será na política ambiental dos Estados Unidos. O diplomata lembra que Biden apresentou um programa econômico para reconstrução no pós-pandemia e, nele, há um capítulo apenas sobre o meio ambiente — e a Amazônia adquire um papel importante.
— Certamente haverá críticas às queimadas e à maneira como o governo brasileiro trata ações ilegais na Amazônia — avaliou.
Já sobre política externa, o ex-embaixador afirma que uma vitória democrata diminuiria a pressão sobre o Brasil para tomada de medidas em relação a Cuba e Venezuela. Sobre a China, contudo, a situação não mudaria muito.
— A confrontação comercial e tecnológica com a China vai continuar. Democratas e republicanos veem a China como uma ameaça à segurança e à hegemonia americana no século 21. Então, vai continuar a rivalidade, mas vai mudar a ênfase, o tom — afirmou.
Uma das consequências, segundo Barbosa, seria na disputa pelo 5G no Brasil: com a reeleição de Trump, a posição ideológica pode prevalecer na escolha; já a vitória de Biden daria chance de o governo brasileiro decidir de acordo com seus interesses.