Na contramão de todo o resto da economia brasileira, a agropecuária foi o único setor a registrar crescimento no segundo trimestre deste ano. Na comparação com o período imediatamente anterior, a alta foi de 0,4%. Ante igual trimestre do ano passado, subiu 1,2%. No acumulado de quatro trimestres, 1,5%. Em todas essas relações, o PIB recuou. Esse é o primeiro ponto positivo destacado em relação ao segmento: ter expensão em um cenário de queda generalizada, por si só, é algo importante.
— Na agropecuária, essa questão da sazonalidade pesa mais do que nos outros setores. Crescer 1,2% (sobre igual período de 2019) quando o terceiro maior produtor (o Rio Grande do Sul) teve uma seca imensa, é uma coisa importante. No acumulado, enquanto o PIB geral caiu 2,2%, o do agro avançou 1,5% é um resultado positivo, mostra uma tendência de comportamento completante distinto do resto da economia — pondera Antônio da Luz, economista-chefe do Sistema da Federação da Agricultura do Estado (Farsul).
Além disso, reforça o economista, o aumento se dá sobre uma base de comparação alta: em 2019, a safra brasileira havia sido igualmente farta. Por outro lado, havia a expectativa de que o crescimento do PIB agropecuário fosse um pouco maior do que o apresentado nos números do IBGE.
— O desempenho do agronegócio veio positivo, mas esperávamos mais, uma alta em torno de 2,5% — diz Ricardo Jacomassi, economista-chefe da TCP Partners.
Paulo André Camuri, economista da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) observa que, em relação às projeções, o resultado de 1,2% de alta representa metade do esperado:
— Comparativamente,o setor teve resultados melhores. Mas isso não quer dizer que o setor não esteja sentindo os efeitos da crise.
Camuri cita, por exemplo, os produtores de hortícolas,que "não exportam, não conseguem se proteger e estão diante de insumos mais caros", além de atender um mercado doméstico bastante reprimido — a queda no consumo das famílias é de 12,5%. Outro segmento que passou por um período "traumático" foi o de flores.
No Rio Grande do Sul, esse cenário de alta do segmento em geral, não deve se repetir. O resultado do segundo trimestre, que será apresentado na próxima semana pelo Departamento de Economia e Estatística da Secretaria de Planejamento, é o que tem maior peso da produção agropecuária.
— O que puxou para cima no país vai puxar ainda mais para baixo no Estado — projeta Luz.