Com prejuízos consolidados na safra de grãos de verão, produtores do Rio Grande do Sul começaram a vislumbrar na produção do inverno a perspectiva de renda – depois de muitos anos amargando resultados negativos. A promessa de uma temporada diferente na estação de frio vem de diferentes frentes. A cotação do trigo, principal cultura do período, atingiu patamares históricos, com o valor da tonelada acima de R$ 1 mil. As relações de troca – custos versus faturamento – têm sido favoráveis. E projeções climáticas também apontam condições favoráveis.
Há, no entanto, preocupação de que o contexto positivo não possa ser aproveitado por conta das “heranças” da estiagem. Sentimento evidenciado, ontem, em reunião virtual da Câmara Setorial do Trigo.
Três pontos principais trazem inquietação neste momento. Todos relacionados ao potencial de comprometimento da capacidade de acessar recursos. O primeiro é a exigência da situação de emergência homologada pelo Estado para as renegociações de financiamentos em razão da estiagem. O segundo é que medidas implantadas para reduzir os efeitos do coronavírus não incluem as linhas de investimento na lista de vencimentos prorrogados. E, por fim , o percentual-limite da carteira de crédito rural que os bancos podem comprometer em renegociações – hoje de 8%. Na prática, isso pode fazer com que um agricultor consiga repactuar e outro, não, devido ao esgotamento dos limites da instituição bancária.
– O trigo é uma cultura de alto investimento para que se obtenham elevadas produtividade e qualidade. Elas são necessárias para fazer o contraponto ao aumento dos custos de produção, já que os insumos são afetados pela subida das cotações do dólar – pondera Hamilton Jardim, presidente da Comissão de Trigo da Federação da Agricultura do RS (Farsul).
O pedido é para que o Estado siga na busca de alternativas que permitam acesso às medidas de socorro. O secretário da Agricultura, Covatti Filho, deve se reunir novamente com o coordenador da Defesa Civil, coronel Júlio César Rocha Lopes. À coluna, o também chefe da Casa Militar afirmou que documento único encaminhado à União tornaria o processo mais demorado, porque seriam solicitados dados de todos os municípios, mesmo os sem estiagem.