As discussões em torno das exportações de bovinos vivos não são novidade, mas foram reacendidas em meio ao cenário de incertezas da pandemia do coronavírus, da projeção de embarques neste ano e do recente carregamento histórico de quase 20 mil animais no porto de Rio Grande. Indústria e produtores têm opiniões divergentes quanto ao tema. Na sexta-feira, o Sindicato das Indústrias de Carnes do Estado (Sicadergs) emitiu manifesto em que se diz preocupado com o crescimento das vendas do chamado gado em pé para outros países.
Na nota, relata o que estima ser o custo da movimentação projetada para 2020, de 200 mil animais. O volume “é suficiente para suprir cinco frigoríficos médios, que geram 1,5 mil empregos diretos e 6 mil indiretos”. Cita, ainda, entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões em ICMS que deixam de ser arrecadados. O Estado soma 300 frigoríficos, com 11 mil vagas diretas.
– Estamos exportando empregos, enchendo navios de postos de trabalho. É contrário à lógica do fortalecimento da economia do Estado – avalia Ronei Lauxen, presidente do Sicadergs.
A ociosidade dos frigoríficos bovinos instalados no RS, frisa o dirigente, é historicamente entre 20% e 25%. E se agravou por conta da queda registrada no consumo do mercado interno neste momento e da redução na oferta por conta da estiagem.
– Não é só indústria da carne que está sendo afetada. Há inúmeras outras que dependem dessa mesma matéria-prima: a de couro, de cosméticos, farmacêutica, artesanato – acrescenta Lauxen.
Para o produtor, a possibilidade de venda de gado vivo se tornou opção de mercado, sobretudo no período de baixa das cotações no mercado interno. Presidente da Comissão de Pecuária da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Pedro Piffero contesta algumas informações. Como a de que a venda externa de bovinos vivos limita a oferta interna. E cita dado divulgado pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) de que a produção de carne bovina deve superar neste ano em 35,5% o consumo brasileiro:
– Se tem preço, o produtor vende para quem pagar melhor. Isso é sinal de que a exportação está pagando melhor. Mesmo se for pouco, faz diferença.
O ponto de convergência vem apenas do cenário atual, que combina redução de consumo e impacto da estiagem no Rio Grande do Sul, questões sobre as quais não se tem controle.