A jornalista Karen Viscardi é colaboradora da colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.

Das 170 coletas com suspeita de deriva do herbicida 2,4-D no Rio Grande do Sul em 2019, 140 tiveram resultado positivo para o agrotóxico, o equivalente a 82,3%. O número é o dobro de casos confirmados em 2018, que ficou em 69. No ano passado, outras 15 amostras tiveram laudo negativo e 15 aguardam parecer de laboratório. Em 2020, novas coletas já foram realizadas, segundo a Secretaria da Agricultura.
O químico é utilizado no preparo das lavouras de soja e atingiu culturas de tomate, ameixa, couve, uva, oliveira, noz-pecã, maçã, caqui, pastagens e cinamomo.
— Esse levantamento é fundamental para prevenção de novos casos — diz o secretário em exercício, Luiz Fernando Rodrigues Junior.
Agora, o relatório será anexado ao inquérito civil do Ministério Público (MP). O promotor de Justiça Alexandre Saltz, responsável pelo caso, informa que o MP trabalha para identificar em mapa os locais com problema, cruzando com registro de compra, identificação de produtor e agrônomo responsável, dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e do caderno de aplicação.
— Temos de fazer buscas em várias fontes, por isso estamos preparando esse mapa das ocorrências. Para a lei dos agrotóxicos, basta descumprir qualquer instrução para ser responsabilizado. Sabemos de produtores que compraram e não registraram, por exemplo — detalha Saltz.
A partir de acordo financeiro ajustado com as fabricantes de produtos à base de 2,4-D — apenas uma indústria não assinou e não teve seu nome revelado —, o governo espera aprimorar a fiscalização.
— O Estado receberá 14 estações meteorológicas e será criado sistema de alerta das condições de aplicação, além dos kits de análise já disponibilizados — detalha o secretário em exercício sobre as contrapartidas das empresas.
Saltz explica que o sistema de informação climatológica servirá de subsídio para o produtor e para os órgãos de fiscalização, já que será possível saber em tempo real o momento da aplicação.
Outra frente de ação do MP é envolver as prefeituras no combate à deriva. Reunião recente entre MP e Federação das Associações de Municípios do Estado (Famurs), foi sugerida a adoção de leis municipais de regramento para aplicação do químico.