Os novos desdobramentos da guerra comercial travada entre China e Estados Unidos trazem atenção ao mercado de soja. Na sexta-feira, como se acenasse uma bandeira branca, o presidente americano Donald Trump anunciou a suspensão da tarifa sobre 400 itens chineses. As duas superpotências devem se reunir no início de outubro para tentar avançar na negociação para colocar um ponto final no embate travado desde o ano passado – cujas consequências vão bem além do grão.
Essa foi a terceira vez, desde o mês de agosto, que Trump decidiu adiar ou remover tarifas sobre importações chinesas antes da temporada de compras do final do ano. Para o analista de mercado e professor da Unijuí Argemiro Brum, a medida pode ser uma preparação do terreno para o encontro:
– Se a China responder tirando tarifas e se, por ventura, incluir a soja, será um ponto interessante para o mercado do grão. As cotações tendem a subir em Chicago.
Por outro lado, isso poderia significar um viés de baixa para os prêmios pagos pela soja brasileira nos portos. Em meio à disputa – e com os EUA como concorrentes diretos no mercado internacional – o produto do Brasil ganhou preferência. Os chineses, que já eram compradores, ampliaram os volumes adquiridos, o que fez os prêmios subirem.
Neste ano, ainda que não tão valorizada quanto em 2018, essa bonificação, paga em razão da alta demanda, e a variação cambial ajudaram a sustentar os preços da soja em reais.
E será que possível alta na cotação do grão em Chicago, resultante de acordo entre as partes, seria capaz de neutralizar eventual redução do prêmio do produto nos portos brasileiros?
– Uma coisa poderá compensar a outra, mas não é nada garantido – pondera Brum.
Em se tratando de Trump e a guerra comercial com a China, nada é previsível. Sobretudo porque quanto mais distante fica a solução para o embate, mais se aproximam as eleições presidenciais americanas de 2020. Ainda que ele tenha declarado não precisar de um acordo antes da disputa eleitoral.