Apesar de picos pontuais, que se transformam em janelas de oportunidade, a soja tem em 2019 cenário de preços inferiores aos do ano passado. Os R$ 67 pagos em julho deste ano no Estado (preço médio, a balcão) representam quantia 11,6% menor do que em igual mês do ano passado. Se considerada a inflação, a perda real passa de R$ 12 por saca, aponta a análise da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário (Ceema) da Unijuí.
Na contramão da receita, os custos com a formação da lavoura ascenderam — vale lembrar que a safra colhida em 2019 foi semeada em 2018, quando a variação cambial encareceu os insumos agrícolas. Como observa Argemiro Brum, analista de mercado e coordenador da Ceema, para compensar essa diferença, o produtor precisa ganhar em produtividade. Mas nem mesmo as grandes evoluções no rendimento do grão por hectare têm sido suficientes para deixar renda no bolso. É por isso que, “não surpreende o sentimento dos produtores de soja de que, nos últimos anos, as margens de ganho têm diminuído radicalmente”, avalia Brum.
— De forma geral, a curva de preços da soja tem sido para baixo desde janeiro, e isso está relacionado a questões de formação de preço — reforça Luiz Fernando Gutierrez Roque, da Safras & Mercado.
Uma das variáveis com pressão baixista é o efeito da peste suína africana na demanda da China por soja. A necessidade de o país asiático seguir comprando o grão se mantém firme, mas a proporção é diferente.
— Apesar de o litígio entre China e EUA continuar, os chineses acabaram comprando menos soja, então, a pressão nos portos foi menor, e o prêmio não subiu tanto — diz Brum.
Em julho de 2018, o prêmio médio no porto de Rio Grande chegava a US$ 2,18 por bushel – medida equivalente a 27,21 quilos. No mesmo mês deste ano, estava em US$ 0,72, recuo de 67%.
A espera por momentos de valorização fica visível nos números da venda da safra colhida. No Estado, 51% da produção foi negociada, ante 65% em 2018.