Todos os caminhos da proteína animal levam à China. O país asiático, mais do que nunca, é o filé de mercado a ser conquistado e ampliado pelas empresas do setor. O apetite habitual da população na casa do bilhão já seria suficiente para justificar esse direcionamento.
Mas situações pontuais, como o surto de peste suína africana, ampliam a demanda dos chineses por produtos de fora de casa. Indústrias e países capazes de atender essa procura extra apostam suas fichas na relação comercial com os chineses, incentivados por volume e remuneração.
— A China sempre será o principal mercado para quem tem habilitação para lá — diz Miguel Gularte, CEO da Marfrig na América do Sul, que abre a 14ª Jornada Nespro, na Capital.
No RS, a empresa é a única credenciada para exportar carne bovina aos chineses (pelas unidades de Alegrete e Bagé). Gularte cita como exemplo da prioridade dada à China o Uruguai. Apesar do aval para exportar carne bovina para Estados Unidos e Canadá, os uruguaios têm embarcado quase 70% da proteína produzida para o país asiático.
— A China e a Ásia são atores de importância ascendente para a carne bovina. Pelo número de pessoas que habitam, pela ocidentalização dos hábitos de consumo e também pelo avanço econômico, com a ascensão social — complementa o executivo.
Sobre oportunidades circunstanciais trazidas pelo surto de peste suína africana na China, o coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro) da UFRGS, Júlio Barcelos, opina:
— É um movimento em todo o mercado de proteína, mas que não deve ter efeito imediato na carne bovina. Em menos de seis meses, não estimo que mexa com preços no Brasil.
As razões para a projeção de Barcellos estão na cultura chinesa — a carne bovina ainda está restrita à parcela social — e ao fato de 80% da produção brasileira ser para consumo interno:
— Mas os sinais para o futuro (em relação à China) são muito bons.