Os recorrentes relatos de perdas e impactos à produção de frutas e de oliveiras causados pela deriva do herbicida 2,4-D, principalmente em áreas da Campanha e Fronteira Oeste fizeram com que um projeto de lei, que tramita desde 2014 na Assembleia Legislativa fosse retomado.
O autor do texto, Edegar Pretto (PT), que propõe a proibição da venda e do uso no Rio Grande do Sul, marcou reunião com o presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Vilmar Zanchin (MDB). A ideia é pressionar para que a proposta possa ser avaliada ainda nesta legislatura.
— Cada vez estão mais claros os malefícios do uso. Dependendo do dia e do vento, pode prejudicar outras culturas, de propriedades vizinhas, porque o ar não tem cerca — pondera Edegar.
O relator do texto na CCJ já deu parecer favorável. Na reunião desta terça-feira, com Zanchin, estarão presentes representantes de entidades como o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Federação das Cooperativas Vinícolas do Estado (Fecovinho) e do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos.
— Temos muitos relatos de produtores, e a cada ano se amplia a demanda por uma solução. A primeira foi em Jaguari. Depois vieram relatos da Campanha, Fronteira Oeste e, agora, já há nos Campos de Cima da Serra e na Serra — diz Carlos Paviani, diretor de relações institucionais do Ibravin.
A entidade acionou a Secretaria da Agricultura, que encaminhou amostras para análise. O relatório ainda não foi apresentado, mas informações preliminares apontam que em 90% foi detectada a presença de resíduos.
O herbicida é utilizado em lavouras de soja, que cada vez mais ganham espaço no Estado. Mauro Rizzardi, professor da Universidade de Passo Fundo e que atua com a Iniciativa 2,4-D, que se propõe a orientar sobre o uso do correto do produto, vê eventual proibição como preocupante:
— Traria impacto ao sistema de produção. Hoje, ele é usado em áreas de soja, de pastagem e de trigo. Sendo que no trigo herbicidas tradicionais não conseguem fazer o controle de ervas daninhas.
Na soja, cita dois impactos: redução de produtividade e aumento do custo de produção.
Rizzardi diz que o risco de volatilidade do produto é reduzido na formulação vendida no Brasil. E diz que os problemas regionais que têm aparecido "estão associados ao uso do produto em condições não adequadas":
— Temos de qualificar o produtor, o aplicador.
O certo é que, diante do atual cenário, será inevitável buscar uma solução para um problema que põe em risco a diversidade de produção no Estado.