Diante do cenário de crise na pecuária, como mostrou a coluna, um dos principais questionamentos surgidos é o de por que a carne bovina continua cara para o consumidor, se a remuneração ao produtor vem caindo. Parte do setor, a indústria alega que tem repassado as baixas ao atacado.
– Estamos em um momento fora de curva. O preço ao produtor está muito baixo. Deu uma explosão de oferta no Estado, que causou isso. As empresas têm passado integralmente ao atacado essa baixa, na mesma proporção da queda no valor do boi gordo – garante Ronei Lauxen, presidente do Sindicato das Indústrias de Carnes do Rio Grande do Sul (Sicadergs).
Segundo o dirigente, em setembro do ano passado, a indústria pagava ao produtor R$ 9,60 o quilo da carcaça e o valor da venda ao atacado ficava em torno de R$ 10,90. Hoje, as cifras são de R$ 9 e de R$ 10,40.
Uma das causas para o recuo, no entendimento dos frigoríficos, é a elevada oferta de gado.
A média semanal de abate no Estado passou de 40 mil para 47 mil cabeças por semana.
– Isso gera uma superoferta, mas lá na ponta, o preço não baixa – completa Lauxen.
Presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo rebate a percepção de que a carne ficou mais cara. O preço médio da carne bovina vendida no supermercado caiu 12% em agosto deste ano em relação a igual mês do ano passado. E está 23% mais barato do que há três anos, aponta o dirigente.
Pesquisa feita pelo Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro) da UFRGS em agosto, em supermercados de Porto Alegre revelou alta em sete de 10 dos cortes pesquisados (picanha, maminha, vazio, contrafilé, entrecot, costela e carne moída de segunda). Outros dois tiveram queda (filé mignon e carne moída de 1ª) e apenas um se manteve estável (alcatra). Também diagnosticou queda de 8% no quilo vivo do boi gordo.
– O preço médio está igual, com pequena queda, mas o consumidor migrou. Está comprando mais o dianteiro. O dianteiro caiu de preço, a costela de angus, não – diz Longo.