Pela primeira vez, um censo agropecuário indicou menos de um milhão de pessoas ocupadas em estabelecimentos agropecuários no Rio Grande do Sul. Em 11 anos, o meio rural gaúcho perdeu mais de 248 mil trabalhadores, cerca de 20% do total – possivelmente atraídos por oportunidades na cidade. Os números divulgados nesta quinta-feira (26) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) retratam uma realidade cada vez mais visível no campo: a intensificação da atividade, com o uso crescente de máquinas e equipamentos, e a migração urbana.
– O investimento em tecnologia requer menos mão de obra. Outro fator que explica a redução da ocupação é o fenômeno migratório, com cada vez menos pessoas dispostas a ficar na zona rural – afirma Cláudio Sant'Anna, coordenador técnico do Censo Agropecuário 2017 no Estado.
Os dados do Censo mostram que a diminuição dos postos de trabalho foi fortemente impactada pelo avanço da mecanização e de tecnologias. O número de tratores aumentou quase 50% no Estado, chegando a 242 mil unidades em 2017. No país, a variação foi bem semelhante, superando a marca de 1,2 milhão de unidades (veja mais abaixo). Entre 2006 e 2017, para cada trator adquirido no Estado, três empregos foram eliminados.
– A concentração do número de propriedades, diante da dificuldade dos pequenos competirem, também favoreceu a mecanização e, consequentemente, a menor necessidade de pessoas no campo – acrescenta Nicole Rennó, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP), que faz acompanhamento trimestral da ocupação no agronegócio.
A pesquisadora pondera, porém, que a queda do número de trabalhadores é maior dentro da porteira do que fora dela – onde se configura o agronegócio. Nas agroindústrias e nos agrosserviços, a tendência de redução de é bem menor.
– A indústria e os serviços não tiveram uma mudança estrutural na atividade que dispensasse a necessidade de mão de obra, ou seja, a modernização foi menor – destaca a pesquisadora.
A mecanização pode ser relacionada, ainda, com o aumento da produtividade da agropecuária brasileira, que cresce a taxas superiores ao restante da economia.