Foi sem grandes sobressaltos o anúncio do Plano Safra 2018/2019. Houve uma leve ampliação de recursos, que chegam a R$ 194,3 bilhões, e um corte de juro que ficou entre 0,5 e 1,5 ponto percentual. Ou seja: pedidos encaminhados por entidades do setor foram parcialmente atendidos. Mas essa nem é a grande marca do evento.
A cerimônia que costuma atrair grandes nomes do segmento à Brasília neste ano teve um pouco de clima de fim de festa. O governo do presidente Michel Temer se aproxima do fim e vive momentos cada vez mais delicados. Talvez boa parte dos líderes do agronegócio já esteja de olho no que virá pela frente.
Entre as novidades do plano atual está a destinação de 5% dos recursos de juro controlado com taxa pós-fixada.
– Essa escolha é facultada ao produtor. Só ele pode fazer essa opção – observou Wilson Vaz de Araújo, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura.
A modalidade está em linha com o que prega o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, de reduzir o volume do chamado crédito direcionado, no qual se inclui o rural.
A possibilidade de ter juro pós-fixado, no entanto, causa um pouco de desconfiança.
– Acho uma conquista do setor o juro fixo. Até porque o produtor fica sabendo o que deve. Temos um país sem tradição de estabilidade. Mas acho que a medida pode ser um balão de ensaio para quererem nos tirar o juro fixo – avalia Paulo Pires, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro-RS).
Um dos pontos que frustrou o dirigente foi o volume de recursos destinado à subvenção do seguro rural: R$ 600 milhões. Apenas R$ 50 milhões a mais do que no ciclo passado e metade da necessidade real, estimada em R$ 1,2 bilhão.
– Esse talvez seja o item mais importante da política agrícola – observa Pires.
João Martins, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) também enfatizou em seu discurso, durante a apresentação do plano em Brasília, a necessidade de ampliar o seguro rural.
– Hoje, apenas 10% da área plantada é segurada, um problema que vem de longe. Se conseguirmos avançar na expansão do seguro, é muito provável que as fontes de crédito para o setor se multipliquem – afirmou.