A sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Não-Me-Toque, no norte do Estado, amanheceu de luto. A faixa preta estendida em frente ao prédio manifestava a tristeza de produtores da região diante do quadro de perdas que se agrava diariamente em razão da mobilização dos caminhoneiros. Ao ter de repetir a ação de descarte de leite da propriedade, na manhã de ontem, o presidente da entidade, Maiquel Junges, 34 anos, decidiu agir:
– Não podemos deixar a situação assim. Estamos de luto. A faixa preta é em favor do associado, do agricultor familiar, que está perdendo o sustento da sua família.
Ao relatar aquele momento em que, em meio aos litros de leite jogados fora, teve a ideia da mobilização, Maiquel não conteve as lágrimas. O jovem, que decidiu tocar a propriedade ao lado dos irmãos, e acabou se tornando uma liderança no meio, preocupa-se, ainda, com o efeito que a atual crise possa causar no longo prazo.
– Como manter a juventude no campo? – questiona.
A família cria 25 vacas da raça holandesa e teve de colocar fora 3,5 mil litros de leite desde o início da mobilização.
No início da mobilização, o sindicato, que tem 800 associados, dos quais cerca de 200 produtores de leite, foi procurado por caminhoneiros e decidiu apoiar a manifestação, levando tratores até Carazinho e realizando um grande protesto. Mas o suporte ficou insustentável com a multiplicação de produtores enumerando as perdas. O endosso foi retirado. E deu lugar ao luto.
Na terça-feira (29), a Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), que reúne os sindicatos do Estado, havia retirado o apoio à mobilização.