Para os municípios localizados na metade sul do Estado, a estiagem tem mostrado, dia a dia, sua face mais nefasta, causando prejuízos que não se restringem, mas afetam em cheio o setor primário, arrastando consigo a economia local. Ciente da gravidade do problema – levantamento da Emater aponta perdas de R$ 757,9 milhões apenas no Sul e na Campanha – a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS) faz na quarta-feira a primeira investida para sensibilizar o Planalto. Duas reuniões estão marcadas: uma no Ministério da Agricultura e outra na Secretaria Especial da Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário (Sead).
– Vamos buscar linhas de crédito emergencial, com juro subsidiado, até para a manutenção das famílias, para amenizar a situação. Cada dia que passa, aumenta o percentual das perdas – explica Nestor Bonfanti, 1º vice-presidente da Fetag-RS.
Outra reivindicação será para a liberação, pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), de milho destinado à ração. A Fetag conclui nesta segunda-feira levantamento de perdas com base nas comunicações feitas aos sindicatos dos trabalhadores rurais. Balanço parcial mostra redução de 30% no fumo, de 40% no milho e de mais de 30% na soja. Além dos animais, que morrem por falta de água.
Outro problema, evidenciado pelo baixo número de pedidos de Proagro na Região Sul feitos à Emater (menos de cem), é que muitos agricultores estão acumulando prejuízos por "conta". Ou seja, plantaram sem crédito oficial, fora da janela de plantio recomendada.
Com decreto de situação de emergência homologado, o município de Hulha Negra, na Campanha, tem 90% da população rural com menos de 40 hectares – são cerca de 400 famílias de assentados da reforma agrária.
– É da produção que sai a renda dessas famílias – pontua Carlos Renato Teixeira Machado (PP), prefeito da cidade.
Presidente da Frente Parlamentar da Agricultura Familiar, Heitor Schuch (PSB-RS) acompanhará as reuniões com a Fetag, mas não vê perspectivas muito animadoras:
– Se com os outros governos não era fácil, agora me parece mais difícil. Ainda mais quando a gente olha para o orçamento e vê que faltarão recursos para programas como o PAA.