A metade sul do Estado tem naturalmente menos chuva, durante o verão, do que a metade setentrional, o que a torna mais sujeita a situações de estiagem como a atual, que começou em novembro e deve, segundo as previsões, estender-se até meados de abril.
São em média de 200 a 300 milímetros na primeira região, contra 300 a 400 milímetros na outra, segundo a professora Nathalie Tissot Boiaski, coordenadora do curso de graduação em Meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria.
Chove menos na parte meridional do Estado porque as precipitações lá dependem basicamente da ação de frentes frias – que estão enfraquecidas nesta temporada. Na metade norte, há fatores adicionais, como a presença de montanhas e a chegada de ar úmido da Amazônia.
– Outras regiões contam com vários fatores que ajudam a chover, mas na região Sul são praticamente só os sistemas frontais. Quando elas não entram, como é o caso agora, há uma redução drástica – diz Gilberto Diniz, da UFPel.
A região também sofre mais com os períodos de precipitação escassa pelas características do solo, mais arenoso e compactado. A pesquisadora em agrometeorologia Bernadete Radin, da Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Irrigação, diz que o solo compactado – com as partículas mais juntas – prejudica a retenção da água da chuva, o que significa que, em um período seco, as plantas começam a sofrer mais cedo.
A compactação do solo é resultado de práticas agrícolas adotadas na região, como a forte aposta na soja. Bernadete diz que os efeitos poderiam ser minimizados se os agricultores adotassem procedimentos relativamente simples de melhoria da estrutura do solo, como a rotação de culturas.
– Se há um bom manejo do solo, há maior retenção de umidade, e a água é liberada para a planta mais gradativamente. Demora mais para ela sentir a deficiência hídrica. O foco do nosso trabalho é fazer essa informação chegar ao agricultor – diz ela.
Bernadete cita ainda como uma prática que pode amenizar o efeitos dos períodos de estio a construção de terraços junto a encostas. Nesse caso, ao correr, a água encontra esse obstáculo e tende a infiltrar.
A situação
- O último evento de seca extrema registrado no RS foi no verão de 2012.
- A precipitação ficou próxima ou acima da média climatológica nos verões seguintes, até o verão deste ano.
- Entre novembro e dezembro de 2017, o extremo sul e a região da Campanha apresentaram uma redução de mais de 50% da precipitação, colocando essas regiões numa condição favorável à seca, com maior intensidade no extremo sul.
- Em janeiro de 2018, a precipitação ficou próxima da média no extremo sul e um pouco abaixo da média nas demais localidades da Metade Sul.
- Até o momento, a precipitação acumulada no mês de fevereiro está bem abaixo da média climatológica em praticamente todo o Estado, totalizando uma redução de mais de 70% da precipitação esperada para o mês.
- Além do déficit de precipitação, foi observado um aumento da temperatura média do ar de aproximadamente 1°C em relação à média climatológica na região da Campanha e no Extremo Sul no trimestre de novembro a janeiro.
*Fonte: UFSM