Disputa política, ameaça de invasão, dívidas que chegam a R$ 1,8 bilhão, má gestão e agora suspeitas de fraude se somam no que parece ser o ocaso da Cotrijuí. Símbolo de pioneirismo e que chegou a ser considerada a maior cooperativa de grãos da América Latina entre as décadas de 1960 e 1970, virou caso de polícia. Em meio a um tumultuado processo de liquidação voluntária, teve na sexta-feira um episódio que escancara o quanto os problemas da Cotrijuí foram além das dificuldades financeiras que afligem algumas de suas pares.
Após uma investigação rápida iniciada no final do ano passado, Ministério Público – por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) – e Polícia Civil cumpriram 24 mandados de busca e apreensão em unidades na sede, em Ijuí, e unidades e residência de pessoas ligadas à cooperativa, em 16 municípios.
Integrante da linha de frente da investigação estima que foram reunidos documentos que podem encher duas vans. As averiguações indicam que, em apenas um tipo de grão, existe somente um quarto do que deveria estar depositado.
O resto teria sido desviado. Além da apropriação de produtos dos cooperados, foram descobertas adulteração de documento e outras fraudes que teriam levado a ganhos econômicos dos envolvidos.
– Parece que estavam ocorrendo vários crimes – diz um dos líderes da operação ouvido pela coluna.
A investigação começou com pequenos produtores procurando autoridades.
Não tinham alternativa para deixar armazenada a safra de verão, mas temiam usar o serviço da Cotrijuí, que nos tempos áureos chegou a ter quase 20 mil sócios — contingente que hoje é quatro vezes menor.
Os casos apurados teriam começado em 2013. Ainda não há estimativa da extensão da possível fraude e dos valores envolvidos, mas o volume de documentos apreendidos indica que há um exaustivo trabalho de filtragem pela frente. Diante do caos, um dos principais credores pede que a cooperativa passe para um processo de liquidação judicial, com destituição do atual liquidante.