Com a redução da taxa básica para 7%, o mínimo histórico, o setor primário ficou com a sensação de prejuízo. É que o juro do crédito rural – entre 7,5% e 8,5% nas linhas de custeio e de comercialização – acabou ficando maior do que a Selic. Quando o governo federal anunciou o Plano Safra, em junho, fez questão de ressaltar que estava cortando um ponto percentual dos financiamentos – e dois pontos percentuais no Inovagro e no Programa para Construção e Ampliação de Armazéns. Na época, no entanto, já era alertado por entidades do setor para o descompasso em relação aos cortes feitos pelo Comitê de Política Monetária (Copom).
– Selic e juro do crédito não precisam, necessariamente, andar juntas, mas como a taxa básica é referencial, todas as outras devem expressar o comportamento dela – entende o economista Antônio da Luz, do Sistema Federação da Agricultura do Estado (Farsul).
Ele explica que o juro básico e o rural costumavam guardar entre quatro e cinco pontos percentuais de diferença. No Plano Safra passado, por exemplo, os financiamentos agrícolas tinham taxas médias entre 8,5% e 9,5%, enquanto a Selic estava na casa de 14,25%.
– Hoje, para o produtor, é mais barato pegar empréstimo à taxa Selic do que no financiamento voltado ao setor. Se a ideia é essa, não precisa ter crédito rural – pondera o economista.
Presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja-RS), Luis Fernando
Fucks vê essa situação como um descaso do Planalto com um setor que faz girar a economia, impulsionando os demais segmentos:
– Esse descolamento, com o juro agrícola maior do que o básico, é um amadorismo do governo. Denota falta de preocupação com o setor primário.
Na prática, aliás, o agricultor vem recorrendo cada vez menos ao sistema oficial. Levantamento da Farsul, com base no número de contratos, mostra que de cada quatro produtores que tomaram crédito em 2015, um não buscou financiamento em 2017. O dinheiro anunciado é maior do que o efetivamente emprestado, o que, na avaliação da entidade, mostra maior seletividade dos bancos.