A decisão final do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre a validade da compra da multinacional americana Monsanto pela alemã Bayer ainda está por sair. Mas parecer da superintendência-geral do órgão publicado nesta quarta-feira (4) acendeu o sinal de de alerta. A aprovação poderá vir com a recomendação de que sejam vendidos alguns dos ativos para o negócio ser concretizado.
Isso porque o documento indica que a operação "gera concentração horizontal significativa, especialmente nos mercados de sementes de soja e algodão transgênicos (biotecnologia)".
E é aí que entra a soja transgênica da quesão. Durante anos, a Monsanto reinou sozinha no mercado de biotecnologia brasileira com a Roundoup Ready (RR). E seguiu no controle com a segunda geração do grão geneticamente modificada, a Intacta RR2 Pro. Mas em 2016 a mesma Bayer que agora adquiriu a gigante americana lançou comercialmente a Liberty Link, sua variedade transgênica.
O que antes era uma opção, agora viraria uma coisa só. Além disso, ambas empresas têm venda de herbicidas associada a esses produtos – o glifosato, no caso da companhia dos Estados Unidos, e o glufosinato de amônia no caso da alemã.
Preocupada com esse cenário de concentração, a Associação dos Produtores de Soja do Brasil, (Aprosoja) ao lado de outras duas entidades (Associação Brasileira de Sementes de Soja e a de Produtores de Algodão), entrou como terceiro interessado no processo junto ao Cade. Seus presidentes foram convocados a prestar esclarecimentos.
– As duas empresas têm biotecnologia, defensivos. Toda essa tecnologia estaria com eles. Não teríamos outra opção no mercado – pondera a Marcos da Rosa, presidente da Aprosoja.
Entendimento semelhante tem o presidente da Aprosoja-RS, Luis Fernando Fucks. Ele estima que, no Estado, cerca de 60% da área plantada na última safra foi com a Intacta RR2:
– Não é um pouco, é muita concentração. A empresa (Monsanto) detém uma fatia muito grande do germoplasma de milho e soja.
Por meio de nota, a Bayer afirmou que a nota técnica "não significa reprovação da operação. É um passo normal dentro do processo de revisão de casos internacionais mais complexos e que permite ao Cade mais tempo para esclarecer dúvidas e discutir remédios adequados para sanar por completo suas preocupações".
O caso segue agora para análise do Tribunal do Cade, que é quem baterá o martelo sobre o negócio. A compra da Monsanto foi anunciada no ano passado em um negócio de US$ 66 bilhões. A aprovação do negócio também é submetida a órgãos de defesa econômica dos EUA e da Europa.