Quase um mês depois da delação premiada da JBS vir à tona, os efeitos do escândalo se intensificam no mercado de carne bovina do país. A maior preocupação vem do Brasil Central, onde há concentração de negócios.
– Nos locais em que a presença da empresa é maior, a situação complica. Os pecuaristas estão com medo de vender – diz Lygia Pimentel, da consultoria Agriffato.
A JBS chega a oferecer até R$ 12 a mais por arroba no Mato Grosso para conseguir matéria-prima, segundo a consultora.
O receio dos criadores reflete a preocupação em entregar o produto e não receber, já que os pagamentos não são à vista. No MT, apesar da insegurança, o pecuarista tem ficado refém da marca. Em muitos casos, o frigorífico alternativo fica a mais de 1,5 mil quilômetros de distância, inviabilizando a operação.
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A orientação é para que o produtor tente vender à vista e se reúna em grupos para os negócios. E, sempre que possível, negocie com frigoríficos sem dificuldades.
– Não é boicote, mas é uma situação de risco – completa Lygia, que na última semana expôs a situação do mercado em reunião da Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil.
O Rio Grande do Sul, neste caso, vive situação diferenciada, inclusive com preços superiores. O Estado não tem frigorífico de bovinos da JBS e, pode-se dizer, ficou blindado à crise.
– Isso ocorreu pela diversificação das plantas – argumenta Gedeão Pereira, vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado.
Segundo o Sindicato das Indústrias de Carnes e Produtos Derivados do RS, são 392 unidades de abates de bovinos no Estado.