Foi um anúncio de Plano Safra da agricultura familiar diferente dos outros anos. Tanto no governo de Luiz Inácio Lula da Silva quanto no de Dilma Rousseff, nunca se escondeu a predileção pelos pequenos produtores, nos quais ambos ancoravam boa parte de sua popularidade. Nessas gestões, o volume de crédito destinado ao segmento cresceu, nominalmente, 455% (veja abaixo). E havia um ministério exclusivo para eles.
Nesta quarta-feira, o presidente Michel Temer ressaltou a importância da produção familiar. Mas diante das evidências, talvez não tenha conseguido convencer de que realmente acredita nisso. Os anúncios oficiais costumavam ter casa cheia, muito barulho e aplausos. No ano passado, em meio ao processo de impeachment, Dilma, que tinha nos movimentos sociais um dos escassos braços de apoio, ampliou o crédito para R$ 30 bilhões. A quantia foi mantida neste ano.
Agora, o clima é diferente. Algumas lideranças boicotaram a cerimônia. Cleonice Back, coordenadora da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-Sul), diz que, por decisão política da entidade, não participou:
– Primeiro, porque não reconhecemos este governo. Segundo, porque não priorizaram o diálogo com o movimento social. A cada ano, havia aumento de recursos. Neste, tivemos congelamento.
Já com o espírito preparado, os agricultores viram a confirmação ainda a manutenção dos juros atuais: entre 2,5% a 5,5%, sem o corte desejado pelo setor, como antecipou a coluna. Há prognósticos, no entanto, de que para a agricultura empresarial o governo reduza o juro – vale lembrar, no entanto, que nos últimos três anos, houve aumento. Independentemente do tamanho do produtor, o governo tem de respeitar, em 2017, o teto de gastos, que deve limitar o crédito agrícola.
Menos crítico, Antoninho Rovaris, secretário de Política Agrícola da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), afirma que é preciso reconhecer o esforço da Secretaria Especial da Agricultura Familiar, que chamou a entidade em duas ocasiões para conversar sobre o plano.
Mas veio a turbulência política causada pelas delações da JBS e o processo de negociação se perdeu.
– No geral, não houve surpresas, nem favoráveis, nem desfavoráveis – opina o dirigente da Contag, sobre o pacote anunciado.