A paralisação imposta a navios carregados com soja no porto de Rio Grande pela falta de dragagem de manutenção está tendo efeitos colaterais até nas lavouras. Produtores estão diminuindo o ritmo da colheita porque os caminhões não estão mais carregando.
Desde a quarta-feira, cinco embarcações estão paradas nos terminais de grãos. Condições climáticas desfavoráveis (vento soprando na direção nordeste) fizeram o nível do canal baixar. Sem a dragagem, os graneleiros não conseguem sair, como mostrou a coluna. Nesta quinta-feira, o problema persistia, ampliando as consequências dentro e fora do porto. Em Júlio de Castilhos, a mais de 400 quilômetros de distância de Rio Grande, o agricultor Mauro Machado da Silva diminuiu o ritmo da colheita. Ele e os irmãos cultivam 1,5 mil hectares com soja:
– Temos três máquinas, e seguido tem uma parada porque não há onde descarregar. A cooperativa está cheia e agora que não desce mais caminhão para o porto, complicou.
É um caos logístico que começa a se intensificar justamente no meio da supersafra. A dragagem tem custo estimado de R$ 368 milhões e estava prevista para abril do ano passado. A superintendência aguarda recursos do governo federal, a serem liberados entre julho e agosto. O Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil informa, no entanto, que analisa a disponibilidade orçamentária para execução das obras da pasta.
Com a manutenção, a profundidade ficará em 16 metros na parte interna e 18 metros na externa. Hoje, oficialmente, está em 14 metros. Mas essa altura ficou comprometida pelo assoreamento.
A superintendência recolhe dos navios taxa de utilização (valor de R$ 1,86 por tonelada). A receita do porto, que no ano passado somou cerca de R$ 120 milhões, não seria, no entanto, suficiente, segundo Darci Tartari, diretor técnico do porto, para a realização da dragagem:
– Uma solução para a autoridade portuária seria reduzir o calado. Mas é uma medida muito radical.
A medida diminui o volume de carga nos navios, o que encarece o frete e diminui o preço ao produtor. Por enquanto, a espera é por melhores condições climáticas. O escoamento da supersafra depende agora de ventos favoráveis.