Não é sobre a saúde que a fraude detectada pelo Ministério da Agricultura em azeite de oliva tem efeito. Mas os resultados que apontaram irregularidades em um terço das 140 amostras coletadas durante período de dois anos em 12 Estados (incluindo o Rio Grande do Sul) e no Distrito Federal provocam estrago em uma relação igualmente importante: a de confiança entre vendedor e consumidor.
Ao envasar um produto e identificá-lo como outro, as 45 marcas (que usam matéria-prima importada) com problemas prometiam uma coisa e entregavam outra. Foram analisados 322,33 mil litros de azeite. Das 279 amostras coletadas, 38,7% tinham irregularidades. Desse universo, 79% apresentavam baixa qualidade do produto.
A fraude mais comum foi a de uso do óleo vegetal com azeite lampante, que precisa ser refinado para poder ser consumido. Mais do que isso, depois de refinado, esse produto deve receber outra classificação. Foi constatada ainda a adição de outros tipos de óleo, como o de soja, em produto vendido como azeite de oliva. As empresas foram autuadas, receberam multa de até R$ 532 mil por irregularidade e os produtos, apreendidos para descarte. Também foram denunciadas ao Ministério Público.
Especialistas afirmam que o número de irregularidades apontadas seria ainda maior se o Brasil fizesse a análise sensorial desse produto – atualmente, faz apenas a físico-química, que classifica o azeite em três tipos: extravirgem, com acidez entre 0,8% e 2%, virgem, com acidez menor que 2%, e lampante, acima de 2%. Para fazer a análise sensorial, o Brasil precisaria ter um painel de degustação oficial. Hoje, 98% do azeite de oliva consumido no país é importado.
A orientação do ministério para o consumidor é de que desconfie de preços muito abaixo do padrão. E também preste atenção nas letras miúdas da embalagem, que identificam o tipo de produto.