Em um momento em que os principais líderes mundiais seguem atônitos com o discurso e atitudes protecionistas do primeiro mês de governo do presidente americano Donald Trump, a superintendente de relações internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), Lígia Dutra Silva, mostrou que tem presença de espírito: em visita a Washington para debater segurança alimentar e o papel da Organização Mundial do Comércio (OMC), aproveitou a oportunidade e fez duras críticas à política de subsídios adotada no país. Durante a apresentação, pediu "comércio internacional mais justo e capaz de oferecer aos produtores brasileiros e do Mercosul os meios para alcançar novos mercados".
No seminário, realizado pelo International Food Policy Research Institute (IFPRI), a representante da CNA citou especificamente a questão dos custeios agrícolas concedidos pelos Estados Unidos aos seus produtores, que têm alto poder de distorção ao comércio agrícola e prejudicam os produtores do bloco sul-americano – o apoio doméstico a agricultores é considerado um dos principais entraves das tratativas multilaterais.
Apesar de não ter efeito prático, o gesto da dirigente é importante. Espera-se que o Brasil, como um dos grandes produtores mundiais de alimentos e dono de papel estratégico para garantia da segurança alimentar do mundo, seja o primeiro a se levantar e criticar o endurecimento de discursos protecionistas. Ainda mais quando vem do país que mais ganhou com acordos de livre comércio.
*Interino