Há duas óticas diferentes para a avaliação do Plano Safra da agricultura empresarial, anunciado nesta quarta-feira no Palácio do Planalto. Do ponto de vista técnico, o pacote que colocará R$ 202,8 bilhões em crédito à disposição dos produtores, teve avaliações positivas, com ressalvas. Diferentemente do ano passado, quando a maior parte dos recursos tinha juro livre (ou seja, sem taxas pré-estabelecidas), neste ano, a maior fatia do dinheiro tem percentuais fixados previamente.
A quantia destinada ao custeio e comercialização a juro controlado – financiamentos que ajudam o produtor a, literalmente, preparar o terreno para o plantio e, depois, a negociar a produção – foi ampliada em 20% e soma R$ 115,8 bilhões.
– Em um ano de crise e ajuste fiscal, em que é natural o arrefecimento do investimento, você tem de aumentar os recursos de custeio. Ele pode não investir, mas tem de plantar – afirmou a ministra Kátia Abreu na cerimônia.
A má notícia é que o juro subiu. E esse é um dos pontos criticados – a taxa varia entre 8,5% e 12,75% nas linhas de custeio e comercialização. No Moderfrota, ficou entre 8,5% e 10,5%.
Aliás, é do ponto de vista político que o plano tem a maior controvérsia. A CNA não compareceu à cerimônia no Palácio do Planalto. Kátia é presidente licenciada da entidade, mas a defesa incondicional da presidente Dilma Rousseff tem lhe custado, no entanto, o respaldo dos ruralistas, que apoiam abertamente o processo de impeachment.
O boicote ao anúncio do plano foi justificado pela CNA em coletiva e em nota oficial. São seis as razões apontadas, que vão desde a preocupação com a necessidade de ratificação das propostas em caso de mudança de governo, até o fato de a entidade não ter tido a chance de apresentar propostas para o pacote, consolidadas após a consulta a produtores rurais.
– Não trabalhamos com posicionamentos favoráveis ou contrários sobre o tema da política nacional, mas colocamos como pergunta se este plano será cumprido em uma eventual troca de governo – opina Paulo Pires, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro-RS).