A produção de trigo brasileira lidera um nada desejado ranking. Tem o maior custo operacional do mundo, como mostram dados do Agri Benchmark. A produtividade, no entanto, não acompanha o ritmo dos gastos. Somam-se a isso duas safras consecutivas frustradas, e o resultado é um produtor desestimulado e um intenso debate sobre o futuro do trigo no Rio Grande do Sul, que ganhou nesta quarta-feira o palco do auditório central da Expodireto-Cotrijal.
– Se a questão fosse avaliada apenas pelo viés econômico, a cultura seria inviável – afirma Antônio da Luz, economista-chefe do Sistema Farsul – Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul.
Para conseguir apenas empatar os custos, o agricultor brasileiro de trigo precisaria ter produtividade média de 76 sacas por hectare.
Para tentar mudar o panorama e dar um incentivo à principal cultura de inverno, a Secretaria Estadual da Agricultura levará à Fazenda proposta para redução do ICMS nas vendas interestaduais. Tudo isso antes do início do plantio, em maio. Hoje, paga-se 8,4%. Será uma difícil tarefa a de convencer o governo a abrir mão de uma arrecadação no momento em que há tamanha dificuldade nas contas públicas. O argumento, no entanto, está na ponta da língua do secretário Ernani Polo:
– O que o Estado movimenta a mais, se conseguir ampliar a área plantada, compensa essa redução.
Além disso, a diminuição de 278,7 mil hectares no último ciclo fez com que mais de R$ 200 milhões deixassem de circular na economia gaúcha. Outro fator a ser considerado: 27% do custo de produção do trigo são impostos, segundo Luz.
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Concorrentes – e fornecedores – dos brasileiros, os argentinos têm menor custo operacional total. Com terras mais férteis, os hermanos precisam usar menos fertilizantes. Além disso, não há tributação sobre o custo de produção e a logística é considerada melhor. E a retirada das retenciones promete ter efeito positivo sobre a área do vizinho no próximo inverno.
– A palavra-chave é diversificação – diz Paulo Pires, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro), que defende a proposta de mudança no modelo gaúcho, destinando parte do cultivo ao trigo tipo exportação.
Até porque uma das perguntas mais recorrentes é: até quando os ganhos com a soja – que estão atrelados ao dólar – conseguirão encobrir os prejuízos de inverno?