As longas distâncias dos centros urbanos, as áreas retiradas e, por vezes, vizinhos afastados são elementos que tornam o produtor uma presa fácil para a ação de criminosos. Uma das maiores chagas enfrentadas no campo é o abigeato - furto de animais. As estatísticas de 2015 ainda estão sendo consolidadas. No primeiro semestre, esse tipo de crime havia crescido 19%, somando 3.976 casos, ante 3.342 registros do mesmo período do ano anterior.
- Até setembro, a tendência era de alta. Nos últimos quatro anos, os números vinham subindo. O contingente do efetivo, o avanço do desemprego e a impunidade são fatores que contribuem para isso - avalia o tenente-coronel Rogério Martins Xavier, coordenador do Comitê de Prevenção ao Abigeato e à Carne Clandestina do Estado.
Leia as últimas notícias sobre abigeato
O grupo reúne, além da polícia, técnicos das áreas tributária e sanitária, em um esforço conjunto para barrar a ação dos bandidos, que encontram na rede de abates clandestinos o alimento para o crime.
No ano passado, o governo do Estado criou também as unidades especializadas de fronteira, equipes volantes voltadas ao atendimento de 197 municípios dessa região. São formadas por integrantes da Brigada Militar (com 50 policiais militares), coordenadoria da Polícia Civil (com cinco policiais) e do Instituto Geral de Perícias. De novembro a dezembro, houve treinamento de preparação, incluindo as patrulhas rurais.
- Trabalhamos com a perspectiva de redução dos números. Os resultados dessas ações coordenadas devem começar a aparecer a partir do segundo semestre - estima o tenente-coronel Xavier.
No tradicional balanço do final de ano, o presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Carlos Sperotto, ao avaliar o governo de José Ivo Sartori deu nota 8, "com exceção da segurança":
- Mantenho a avaliação. Não estamos sentindo uma ação forte.
O abigeato não é o único crime registrado no meio rural. Há ainda furtos de produtos agrícolas e assaltos às propriedades, que assustam agricultores e engrossam as estatísticas. Leia abaixo o relato de vítimas. Elas contam como o crime afeta a rotina nas propriedades.
Alvim Lúcio Farias
Pecuarista em Hulha Negra, na Campanha
Participei de uma pescaria e, quando retornei à propriedade, há 10 dias, meu funcionário avisou que haviam sumido seis bois. Foram levados de um potreiro mais retirado. Cortaram os argolões para abrir a porteira. Usaram uma tesoura e depois passaram arame em volta para não deixar a porteira caída. Não é a primeira vez que tenho problema de furto. Estamos desamparados. O contingente policial é pequeno e, às vezes, falta combustível. Muitas vezes, o pessoal do sindicato rural paga o combustível. Entre os produtores, sempre que vemos um carro estranho parado na estrada, nos comunicamos.
Márcia Mundstock
Pecuarista e produtora de grãos em Manoel Viana, na Fronteira Oeste
Entraram na propriedade na madrugada, enquanto estávamos dormindo. Levaram produtos para o tratamento de sementes, inseticidas, fungicidas, material de trabalho, bateria de pulverizador. Aquilo desestruturou bastante o ciclo da safra. Em um vizinho, que planta milho, também levaram insumos. A gente se sente impotente. E, no campo, fica ainda mais isolado. Colocamos um sistema de alarme simples. Tentamos o monitoramento de câmeras, 24 horas, mas esbarramos na dificuldade da telefonia móvel.
Leonardo Teixeira Chiappetta
Pecuarista e produtor de grãos em São Gabriel, na Fronteira Oeste
De dezembro para cá, tivemos 70 animais furtados. Foram bois, fêmeas e um touro. Na nossa localidade, no distrito de Vila Suspiro, há anos ocorre o abigeato. Eram mais ovinos. De um ano para cá, começou também o furto de bovinos. Não tem dia, não tem hora. Simplesmente ninguém sabe, ninguém viu. Tive apoio das autoridades e amenizou um pouco. Mas no que acalmam as operações da polícia, os ladrões recomeçam. Me sinto impotente, sem capacidade de agir por não saber quem são. É uma situação desagradável e não tem fim.