Em um momento de crise, econômica e política, olhar para o agronegócio revigora o ânimo. O setor não só fez a sua parte, mantendo desempenho positivo, como ajudou a evitar tombos ainda maiores dos demais segmentos. Não é que tudo seja um mar de rosas. Há, sim, problemas a serem tratados: ausência de recursos para a subvenção rural, ritmo lento na liberação de crédito e recuo na casa dos dois dígitos das vendas de máquinas são exemplos.
O Brasil agro continua sendo a grande aposta de futuro na produção de alimentos. Ontem, no seu tradicional balanço de final de ano, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil indicou que o PIB nacional do setor não deverá crescer em 2015. A fatia de participação na economia, sim, de 21,4% para 23%.
Se por um lado o real desvalorizado é motivo de preocupação, por outro, deixou o país mais competitivo no mercado internacional.
Nesta temporada de transição entre um ano e outro, a coluna foi buscar com entidades e empresas como registraram 2015 e como projetam 2016. Há muita coisa boa pelo caminho.
Investimentos nutridos por garantias
Até o fim do primeiro trimestre de 2016, a Yara espera ter a segurança necessária para tocar adiante o projeto de expansão no Rio Grande do Sul, a partir da unidade que tem em Rio Grande. Com investimento total previsto de R$ 1 bilhão, a ser executado em três fases, a multinacional de fertilizantes aguarda a garantia sobre a manutenção dos atuais parâmetros de impostos nas vendas interestaduais. Desde o início deste ano, os executivos negociam com o governo do Estado. Atualmente, decreto estabelece redução de 75% da base de tributação.
- Estamos prontos para investir. Mas um decreto pode ser cassado amanhã. A ideia seria ter uma lei ou algo que nos dê mais segurança - afirma Lair Hanzen, presidente da Yara no Brasil, acrescentando que o diálogo com o governo anda bem.
O maior mercado da Yara é no Estado - a participação é de 40%, enquanto no país o share é de 25%.
- Nossa capacidade de expansão está em Rio Grande. Estamos com tudo pronto - acrescenta Hanzen.
Com as obras, a serem concluídas em seis anos, a Yara poderia ampliar em 60% a capacidade de recebimento via porto gaúcho - hoje de 2,5 milhões de toneladas por ano. O CEO da Yara, Svein Tore Holsether (na foto acima, à esquerda), esteve no Estado nesta semana e viu de perto a unidade de Rio Grande.
Novo ritmo
A crise econômica vai fazer de 2015 um ano diferente para o setor de lácteos. A produção brasileira deve encolher entre 1,5% e 2%. No Rio Grande do Sul, conforme o presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Derivados do Estado (Sindilat-RS), Alexandre Guerra, deve ficar estável. Pesou para isso o aumento nos custos de produção e o efeito do clima. No Estado, foi o excesso de chuva. Na Região Sudeste, a escassez.
As dificuldades financeiras mudaram o perfil de compra. As pessoas passaram a dar preferência a produtos de melhor custo-benefício, cortando da lista os de maior valor.
- Para 2016, a indústrias terão de inovar com produtos diferenciados, para a saúde.
E produzir em maior escala para diluir custos - avalia Guerra.
Na noite desta quinta-feira, o Sindilat-RS marcou o balanço do ano com jantar em Porto Alegre.
Sem crise
Para os criadores de bovinos de corte da raça angus, 2015 foi muito na contramão da turbulência e saiu melhor do que a encomenda.
O ano teve venda histórica de 3,8 milhões de doses de sêmen, mais da metade - 53% - do total.
Outro motivo de euforia foi o volume 21% superior de animais certificados pelo Programa Carne Angus - 400 mil cabeças.
- Isso ratifica a posição do programa - reforça José Roberto Pires Weber, presidente da Associação Brasileira de Angus.
A adesão à Plataforma de Gestão Agropecuária permitiu ainda o embarque de carne com a rotulagem angus para a Europa.
O desafio, para 2016, será manter o ritmo de crescimento.
Nesta quinta-feira, a associação encerrou o ano com jantar de reconhecimento aos criadores em Porto Alegre. Entre os homenageados, Ulisses Rodrigues Amaral, da Cabanha Santa Joana, de Santa Vitória do Palmar, que recebeu o Troféu Mérito Genético.
Versão digital
Com cerca de 30 milhões de hectares nos EUA integrados à agricultura digital, a Monsanto começou a fazer testes com a nova plataforma em oito Estados brasileiros - incluindo o Rio Grande do Sul. Ainda não há data definida para comercialização.
- A agricultura digital irá transformar a agricultura no mundo nos próximos 20 anos - disse Santos, no Na Mesa com a Monsanto, em SP (na foto, um simulador digital especialmente feito para o evento).
Para desenvolver o aplicativo no Brasil, a empresa, a exemplo dos EUA, deverá firmar parcerias com grandes companhias da tecnologia da informação.
- O desafio de implantar o sistema no Brasil será mais complexo, por limitações de sinal de internet no campo e de estações meteorológicas - diz.
Os investimentos em tecnologia da informação para cruzamento de dados ganharam força a partir de 2013, quando concluiu a aquisição da Climate Corp, de análise e gerenciamento de risco. Investindo US$ 150 milhões no Brasil no ano fiscal de 2015, a Monsanto faturou US$ 1,72 bilhão, um pouco menos que em 2014, US$ 1,77 bilhão.
* Colaborou Joana Colussi