Sim, não ter, ao menos eventualmente, dois dias seguidos de folga na semana é ruim. Não dá tempo direito para desconectar do trabalho e, mais ainda, inviabiliza vários passeios e viagens. Mesmo assim, a discussão sobre a proposta que tramita no Congresso para proibir a chamada jornada com escala "6x1" precisa ser racional. Ou então, os trabalhadores darão tiro no pé.
Protocolada há meses, a proposta de emenda constitucional (PEC) da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) também reduz a jornada semanal de 44 horas para 36 horas, divididas em escala de 5x2 ou até 4x3.
Isso levaria a uma redução de salário? A legislação trabalhista é, atualmente, restritiva, admitindo corte de remuneração apenas em casos excepcionais. Mas, se for autorizada, o corte será substancial, atingindo trabalhadores que nem têm renda que supra as despesas básicas da família.
Com menos horas trabalhadas por funcionário, as empresas terão que contratar mais pessoas. Isso eleva o custo de folha de pagamento - que, infelizmente, já é altíssimo no Brasil pelos seus encargos. Quem paga? O cliente, que repassa ao seu próprio cliente e, assim, vai sucessivamente até chegar ao consumidor final. Isso é pressão inflacionária, que gera aumento de juro.
Possível redução de renda do trabalhador com aumento de preços? É um cenário no qual essa proposta dificilmente avançaria da forma como está. Ainda mais, com a baixa produtividade nas empresas. Obviamente que o aumento dela não deveria ser em cima de volume de trabalho dos funcionários, mas na sua qualificação e na tecnologia. Mas, por enquanto, esta é a realidade. No futuro, com mais automação e educação, quem sabe seja possível mesmo disseminar uma folga semanal de três dias?
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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