Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Se sempre faltou vontade política para as ferrovias gaúchas avançarem — e, hoje, para desbloqueá-las após a enchente —, o vice-governador Gabriel Souza abraçou agora o assunto. Ele tem cobrado a concessionária Rumo sobre um diagnóstico das estruturas. Após dois adiamentos, em uma reunião à tarde passada, a empresa deu um panorama, mas ainda sem o detalhamento. Estavam Secretaria Nacional de Ferrovias, Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT),
Pela estimativa da Rumo, noticiada pelo colunista Jocimar Farina, 800 de 1,7 mil quilômetros precisam de conserto após a inundação, além de cinco pontes e viadutos usados pelos trens, exigindo R$ 3 bilhões. Como a concessão termina em 2027, a empresa resiste em fazer o aporte.
O vice-governador requisitou que o governo do Estado participe do grupo de trabalho sobre o imbróglio das ferrovias gaúchas. Para estar municiado à mesa, Gabriel Souza contratará um estudo de demanda atual e futura de cargas, essencial para buscar investimento emergencial e aumentar a malha ferroviária, básica em qualquer país com logística eficiente.
— Nossa ferrovia é de 1920, pensada para deslocar militares, temos o pior vagão, o pior trem, a pior bitola para carga. Não temos capacidade técnica porque o que tínhamos de ferroviário no Estado foi sucateado. Que se redesenhe a ferrovia, que se faça uma renegociação contratual, mas preciso nos municiar de dados — diz o vice, que espera para os próximos dias o diagnóstico completo da Rumo.
Gabriel Souza destacou como positivo que o governo federal cogita abrir para as ferrovias crédito extraordinário no orçamento, como ocorreu nas rodovias e no aeroporto de Porto Alegre.
— Seria interessante usar o método do PAC Seleções, colocando o dinheiro em um fundo financeiro administrado pela Caixa Econômica Federal — acrescenta.
Lembrando que, com os bloqueios recentes, a ferrovia do Rio Grande do Sul está isolada do resto do país. A negociação é difícil, mas não é impossível. Precisa de vontade política, e o Sul tem ficado para trás.
Trechos afetados
- Tronco Sul: sai do Pátio Industrial em Canoas até Lages (SC) e de lá para São Paulo (túneis fechados na Serra)
- Ferrovia do Trigo: de Roca Sales até Passo Fundo (estragos entre Muçum a Guaporé)
- Ramal que sai do Pátio Industrial em Canoas para Santa Maria (estragos em Rio Pardo)
30 anos
Desde 1997, o trecho gaúcho está com a iniciativa privada. Até 2015, o controle era feito pela América Latina Logística (ALL). A empresa foi comprada pela Rumo Logística, que assumiu a operação. O trecho gaúcho está dentro da Malha Sul, que possui 6,5 mil quilômetros também em Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Só no Rio Grande do Sul, 1,5 mil quilômetros foram desativados ou suspensos ao longo das décadas.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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