O que provocou, o que agrava e o que dificulta a contenção dos incêndios que destroem parte do território brasileiro e espalha a fumaça que fecha o céu do Rio Grande do Sul foram temas da entrevista do Gaúcha Atualidade com presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho. À Rádio Gaúcha, ele foi enfático ao dizer que todas as queimadas foram provocadas por pessoas.
— São todas por ação humana. A maior parte intencional — cravou. — Detectamos alguns casos de descuido. Teve um acidente com caminhão que originou um grande incêndio. Mas, de uma maneira geral, são pessoas colocando fogo — continuou.
Agostinho citou a prática comum no Cerrado de colocar fogo para depois fazer o desmatamento.
— No Pantanal, tivemos muito fogo ligado à chamada limpeza de pastagem. A pessoa quer o pasto nascendo novo e acha que terá um benefício colocando fogo. Pelo contrário, está matando o solo.
Na Amazônia, ao invés de desmatar, estão preferindo incendiar a floresta, já que está seca.
— Árvores perderam folhas, tem um tapete de folhas secas. Estão colocando fogo para degradar a floresta. Depois, jogam semente de pastagem e colocam o gado. Existe muita grilagem de terras, o que causa uma quantidade enorme de incêndios.
Alguns Estados permitem, em determinadas épocas do ano, a chamada "queima controlada" ou "queima prescrita", que pode ser usada tanto para práticas agrícolas quanto para a própria prevenção do fogo. O Ibama, em épocas mais úmidas, usa essa prática. Neste momento, porém, está proibida a prática de qualquer tipo de fogo. Há casos de vandalismo detectados pelos 700 fiscais, nos quais a pessoa vê o mato seco e simplesmente coloca fogo.
— Amazônia e Pantanal são as regiões mais afetadas pela estiagem prolongada, pelo extremo de temperatura e baixa umidade. Não tivemos as chuvas que eram para o Norte e o Centro-Oeste. Elas foram direto ao Rio Grande do Sul. À margem direita do Rio Amazonas, quase todos os afluentes estão muito baixos ou completamente secos — exemplificou o presidente do Ibama.
O presidente do Ibama também relata casos de omissão local.
— Infelizmente, em alguns lugares, notamos um pouco de conivência de autoridades locais. Principalmente porque estamos em período eleitoral. Em muitos municípios da Amazônia, prefeitos estão dando autorizações de desmatamento. São autorizações completamente ilegais.
Sobre a qualidade do ar, o presidente do Ibama dá um pequeno sopro de esperança.
— No caso do Rio Grande do Sul, temos a entrada de uma frente fria, que está proporcionando algumas chuvas dispersas no Estado. Já está melhorando a qualidade do ar, porém, essa crise de incêndios florestais no Centro-Sul deve persistir até o final de setembro, e na Amazônia, infelizmente, até o final de dezembro. Não são previsões otimistas. A Bolívia está uma tragédia de incêndios florestais também. Temos grandes incêndios no Paraguai. Essa fumaça vem descendo e chega até o Sul do país. Os três Estados ainda serão muito afetados pela fumaça, infelizmente.
Ouça a entrevista na íntegra:
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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