O jornalista Guilherme Jacques colabora com a colunista Giane Guerra, titular deste espaço.
A abertura parcial do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, prevista para outubro, traz alívio aos setores de vitivinicultura e de enoturismo na Serra. Isso porque, mesmo apostando no visitante gaúcho que, agora, já encontra estradas liberadas e pode chegar à região, os turistas de outros estados têm peso enorme para o Vale dos Vinhedos.
– Nós temos uma mobilização quando se fala da busca por produtos gaúchos no cenário nacional a até de trazer eventos para o Rio Grande do Sul. E tudo depende do aeroporto. Então, sou muito otimista com essa volta em outubro – resume Daniel Panizzi, presidente da União Brasileira De Vitivinicultura (Uvibra) e diretor da vinícola Don Giovanni, de Pinto Bandeira.
Será, assim como no caso do Salgado Filho, uma retomada parcial. Um primeiro passo que ainda não deve levar a região de volta aos patamares do ano passado. Isso, Panizzi acredita, virá a partir de janeiro de 2025:
– É o grande momento, com a colheita da uva. Então, vai nos exigir, junto com a Secretaria Estadual de Turismo, um esforço para consolidar essa retomada. Esperamos brindar a isso junto com a nova safra.
Mesmo sem ter sido atingido diretamente pelas águas em maio, o Vale dos Vinhedos foi severamente impactado. Um impacto, porém, que já vinha sendo sentido desde setembro do ano passado, quando foi aberta a temporada de eventos climáticos extremos que atingiu o Estado.
— As pessoas de fora ficaram com uma impressão ruim depois do que aconteceu no Estado. Nós só fomos começar a recuperar no início deste ano. Tivemos um bom abril e projetávamos um cenário muito positivo para julho, nosso melhor mês, mas veio esse impacto, que foi muito mais drástico — diz Panizzi.
Segundo a estimativa da Uvibra, 250 mil turistas deixaram de visitar a região em maio. Junho trouxe leve recuperação, também percebida neste mês, mas ainda cerca de 40% abaixo do que foi registrado no mesmo período do ano passado. Um duro golpe em um setor que estima 3 milhões de visitantes por ano.
Impacto para os pequenos produtores
O impacto financeiro da enchente na produção de uvas, segundo Daniel Panizzi, presidente da Uvibra, ainda não foi inteiramente calculado. Mas, em extensão, foram perdidos 500 hectares de vinhedos.
Dentro do todo, estimado em 45 mil hectares, não é devastador. Não há escassez de produção. O mês de maio, inclusive, criou um gargalo para o escoamento dela. Isso porque duas das maiores regiões consumidoras dos produtos – vinhos, espumantes e sucos de uva – são Porto Alegre e Metropolitana. Ambas fortemente castigadas e que deixaram de consumir como se esperava.
A relevância da perda nos vinhedos, apontada pela Uvibra, porém, está no efeito econômico sobre os pequenos produtores.
– Temos que considerar que falamos da agricultura familiar, em que a média por agricultor é de dois a 13 hectares. Então, são mais de 200 famílias que perderam todo o seu sustento – salienta Panizzi, que prossegue:
– São agricultores com idade média de 60 anos, mais vulneráveis, com mais dificuldades de se recuperar. Um público para o qual temos que olhar com muita atenção.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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