Já não tão ignoradas mais, as mudanças climáticas não provocam os fenômenos como seca e chuvaradas, mas os deixam mais extremos. O Rio Grande do Sul tem sentido. O processo não ocorreu de uma hora para outra e não será revertido rapidamente. Deve-se falar mais sobre justiça climática, conceito que parte, claro, da aceitação de que as mudanças climáticas são uma realidade e — o mais importante — impactam a população de forma desigual. Como conviver com os eventos climáticos e proteger comunidades mais vulneráveis foi a provocação do porta-voz de justiça climática do Greenpeace Brasil, Igor Travassos, ao podcast Nossa Economia, de GZH. Ele, aliás, esteve no Rio Grande do Sul logo após a enchente de setembro de 2023.
— Não é à toa que alguns territórios são mais preparados. Todos precisam estar e isso passa por políticas públicas eficazes de adaptação. Não podemos naturalizar desastres — diz o representante do Greenpeace, organização mundial pró-meio ambiente.
Para evitar que fenômenos climáticos virem tragédias, o Greenpeace defende que o principal é a população saber quais são as áreas de risco e quais são esses riscos, com estudos disponibilizados às pessoas. Quando veio ao Rio Grande do Sul, na primeira enchente, Travassos frisou que os alertas precisavam ser mais efetivos e até foram nos casos seguintes. No Vale do Taquari, a comunidade levou mais a sério. Na Região Metropolitana, especialmente Canoas e Eldorado do Sul, foi mais resistente a deixar as casas.
— É preciso um conjunto de ações: prevenção, adaptação e resposta. No Vale do Taquari, há destruição da mata ciliar, não tem vegetação nativa para conter o rio. Os territórios precisam ser adaptados, estruturas têm que ser construídas. Se não evitar a tragédia, possibilita que as pessoas sobrevivam — afirma.
Nesta semana, em entrevista a Zero Hora, Rualdo Menegat, geólogo, doutor em Ecologia de Paisagem, disse que estávamos "pagando caro por ocupar o lugar da água". A frase provoca termos que repensar as cidades, o uso dos morros, as moradias perto da água, os subsolos, as escavações...
É discutido no país o Plano Nacional sobre Mudança do Clima e como ele precisa se adaptar às regiões. Países subdesenvolvidos sentem mais, há comunidades com maior dependência de produção agrícola, o Interior precisa de um olhar diferente do das capitais, populações negra e indígena tendem a ser mais vulneráveis. Outros pontos importantes: O sistema de saúde das localidades se adaptou às novas necessidades? E o de transporte?
O Rio Grande do Sul, aliás, tem sido com frequência comparado a Santa Catarina, que já implementou um programa de combate a desastres. Agora, comunidades e governos do Estado estão em ações emergenciais. Quando acalmar e antes do próximo problema, que se avance no planejamento sobre como lidar com o que vem por aí.
— Nós (o Greenpeace) continuamos trabalhando na mitigação, no combate à emissão de gases de efeito estufa, mas a crise climática não é ficção, não é mais algo do futuro. Temos que olhar o que vivemos hoje e como garantir o direito à vida — conclui Travassos.
Relembre o podcast Nossa Economia com o porta-voz de Justiça Climática do Greenpeace Brasil, Igor Travassos:
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@diariogaucho.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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