O etanol está de volta ao páreo, inclusive na disputa com a gasolina na hora em que o consumidor vai abastecer um carro flex. Na média do Rio Grande do Sul, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o álcool combustível, a R$ 4,34, está custando 77% do preço da gasolina, R$ 5,63. Em geral, os especialistas dizem que 70% compensa o rendimento menor no motor, mas há quem afirme que 80% já está valendo, como o engenheiro mecânico Anderson de Paulo, pesquisador de biocombustíveis.
— Na Região Metropolitana, já tem litro de etanol a R$ 3,89 para Uber — diz o engenheiro.
Como são médias, há locais em que a vantagem já está mais evidente e é possível que ela aumente. Há pressão para que a Petrobras aumente o preço da gasolina nas refinarias, porque petróleo e dólar estão subindo. Ao mesmo tempo, está começando a safra de cana-de-açúcar, o que pode reduzir mais o preço do combustível, que chegou a superar R$ 7 nas bombas dos postos gaúchos há dois anos. A moagem teve início agora em abril.
O que há nos planos
De origem renovável — de cana a milho —, o etanol é um dos combustíveis que têm apoio do atual governo Lula. Em outras épocas, acabou ficando de lado com a descoberta do petróleo no pré-sal. Recentemente, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, deixou claro que continuará favorecendo o etanol ante a gasolina, após já ter elevado o percentual do combustível verde na mistura com o fóssil. Lembrou que, quando foi governador de São Paulo, reduziu o ICMS do etanol para aumentar sua competitividade. Lá, ficam as maiores usinas produtoras, de onde o Rio Grande do Sul compra etanol, já que produz pouquíssimo. Ao menos por enquanto, pois há projetos para construção de grandes usinas aqui no Estado. No Congresso, o etanol está contemplado no projeto de lei do Combustível do Futuro, que passou na Câmara dos Deputados e vai ao Senado.
Divisão entre montadoras
Por mais que seja um combustível renovável e tenha esse apoio de alguns governos, o etanol divide a opinião das fabricantes de veículos. Confira a visão de duas grandes montadoras mundiais, dadas por executivos questionados pela coluna sobre o assunto.
Presidente da Volvo na América Latina, Luis Rezende:
"Vou ser bem transparente. O etanol foi uma iniciativa bacana, mas perdeu seu momento. Hoje, o mundo inteiro apostou em eletrificação. Não há discussão sobre isso. Na China, são 18 milhões de carros vendidos por ano, 30% elétricos. Já são mais baratos de serem desenhados, lançados e produzidos do que um carro a combustão. Etanol só no Brasil. Duvido que essa tecnologia consiga sobreviver a um movimento global. Não podemos achar que a jabuticaba vai ser a fruta do mundo inteiro, porque só tem no Brasil."
Diretor de Assuntos Regulatórios e Governamentais da Toyota no Brasil, Rafael Ceconello:
"O etanol tem casos de sucesso no país. Ele realmente atende à demanda, seja por distribuição, acesso e, inclusive, muitos anos de experiência no uso. Acreditamos que é uma rota, assim como outras, muito válida. Colocamos o tema como rotas tecnológicas, de combustíveis que são válidos. Tanto que o nosso produto é o único que coloca, com tecnologia nacional, o etanol como opção junto com a eletrificação para produção no Brasil."
É assinante mas ainda não recebe a cartinha semanal exclusiva da Giane Guerra? Clique aqui e se inscreva.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
Leia aqui outras notícias da coluna