Uma das apostas para o futuro do transporte são os veículos elétricos. O imposto para importação foi elevado, mas fabricantes pretendem produzi-los no Brasil. O preço deve cair no longo prazo, enquanto as vendas seguirão subindo, projetou o presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Ricardo Bastos, em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha. Confira trechos abaixo e ouça a íntegra no final da coluna.
Qual o impacto no mercado do aumento do imposto de importação para veículos elétricos?
Não foi uma notícia muito bem recebida por nós, mas entendemos as razões do governo. O mercado tem crescido 50% ao ano nos últimos cinco anos e, em 2023, avançamos 80%. Foi um salto interessante, impactado pela corrida de dezembro após a informação de que aumentaria o imposto. Fechamos em 92 mil unidades, acima da melhor previsão. Para 2024, ainda estamos projetando crescimento de 50%. Não acredito que o preço subirá exatamente 10% com o imposto.
Esse aumento de preço pode ser anulado pelo avanço de tecnologia e pela concorrência, especialmente dos chineses?
Empresas estão anunciando investimento no Brasil. Deveremos ter produção local já na metade do ano. Eu acredito que o imposto terá impacto de preço, mas a concorrência cuidará para que não seja muito grande. Por isso, vendas continuarão crescendo.
O que o Brasil já produz?
Híbridos convencionais, que não precisam de tomada. O híbrido plug-in, que usa tomada, será o próximo. E, nos próximos dois anos, o Brasil começará a fabricar veículos elétricos puros. O consumidor quer o plug-in.
Como ele é?
O híbrido plug-in tem as duas tecnologias e pode tirar o máximo delas. Ele tem o motor a combustão, importante para quem viaja, pois ainda estamos fazendo a estrutura de recarga no país. Ao mesmo tempo, tem o plug-in, podendo usá-lo na maior parte do tempo no modo elétrico. Há veículos com autonomia de 170 quilômetros no modo elétrico e mais um tanque de combustível de 60 litros. Na cidade, já se pode no veículo elétrico puro.
O desafio das baterias: quando durarão mais, ficarão mais baratas e qual a destinação dada a elas depois?
O padrão hoje é uma garantia de oito anos, mas ela não acaba neste prazo. Ela deve durar o tempo do veículo, então estamos falando de 15 anos. O que pode acontecer é a bateria sofrer algo neste período, como descarregar ou ter problema em uma célula. E está surgindo um mercado de reciclagem de baterias, com troca de células danificadas. Se ela baixa de 80% de capacidade, tem que ser substituída, mas pode virar um armazenador em casa, no escritório ou em um prédio público. Importante: a bateria é 100% reciclada. O lítio pode virar outra bateria. O Brasil precisa produzir baterias.
Quando teremos carros 100% elétricos custando menos de R$ 100 mil no Brasil?
O brasileiro quer carro para cinco pessoas, com capacidade de bagagem, então um compacto talvez não agrade todos. Mas vale para o uso urbano. Chegaremos nos R$ 100 mil, corrigidos pela inflação, claro. No médio e longo prazo, a tendência é de queda do preço do carro elétrico, enquanto o modelo a combustão vai subir, pelas questões ambientais.
É preciso gerar energia para abastecer esta frota. Para ser sustentável, precisa ser renovável ou carros elétricos serão movidos a energia de carvão quando os reservatórios brasileiros baixarem. Muitas empresas e governos anunciam frotas elétricas, mas não geram energia e abastecem no sistema interligado. Como as fabricantes podem mudar isso?
Temos que cobrar energia 100% renovável de fontes certificadas eólica ou solar, ou mesmo hidrelétricas de baixa impacto. Não haverá falta de energia. O impacto de um veículo carregando na sua casa é o de um chuveiro ligado, mas a preocupação com a energia limpa é muito importante.
Ouça a entrevista completa:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Vitor Netto (vitor.netto@rdgaucha.com.br e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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