Indústria da borracha de Santa Cruz do Sul, a Mercur é a empresa que a coluna conheceu até hoje que foi mais radical nas mudanças que adotou para que o negócio se alinhasse ao seu propósito de futuro. Entre as ações, estão substituir importações, deixar de ter cargos de chefia, parar de usar personagens infantis nos materiais escolares, deixar de fornecer à indústria do fumo e ter foco em produtos voltados à educação e à saúde criados junto com clientes para entender as necessidades. A companhia completará 100 anos em 2024. Confira trechos da entrevista do programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, com Jorge Hoelzel Neto, facilitador de direção e acionista da terceira geração da Mercur:
Hoje, 59% dos fornecedores são gaúchos e as compras de fora do país caíram a 17%. Como vocês substituem as importações?
A ideia é gerar emprego e prosperidade aqui no Brasil antes de fazê-lo lá fora. Além disso, tem a pegada dos gases de efeito estufa. Trazer produtos importados, seja de qualquer lugar, sempre acaba emitindo mais gás do que produzindo internamente. Estamos avançando na substituição, já temos nossa fábrica de muletas, andadores e bengalas produzindo já no Brasil, em Santa Cruz do Sul. E estamos ampliando ela para produzir mais produtos. Além disso, conseguimos fazer um produto muito mais cocriado com o usuário final, o que é uma característica importante do nosso desenvolvimento, de sempre estar muito conectado com os profissionais da área, usuários e todos que têm a ver com o produto que será usado. Não temos uma meta, mas vamos andando e trabalhando na medida do possível para investir nessas novas frentes.
Fica mais caro?
Às vezes, fica mais caro. Às vezes, não. No caso das bengalas e muletas, não está mais caro. Conseguimos entregar para o usuário com o mesmo preço do produto que importávamos antes. A grande vantagem é, com desenvolvimento nosso, conseguimos produtos com 20% menos alumínio. São ganhos que temos fazendo o estudo todo aqui dentro.
Como foi 2023?
Poderia ter sido melhor, mas foi um ano bom. Tivemos muitos investimentos imaginando que as vendas iriam acontecer, mas não aconteceram na mesma magnitude que tínhamos pensado. Mas, independentemente disso, tivemos crescimento de faturamento.
Quais mudanças fez no ano para se preparar para um futuro mais verde?
Os novos tempos requerem o que tem sido chamado de "ambidestria", ou seja, equilibrar vários pratos de vários tamanhos ao mesmo tempo. É um pé no presente e um olhar no futuro, mas um futuro muito próximo. Na Mercur, temos um olhar muito forte para nossas responsabilidades sociais e ambientais. Não basta querer ver a empresa crescer ou lançar mais produtos, precisa ter a consciência de que existe uma responsabilidade sobre o meio ambiente e sobre a sociedade que temos que estar atualizados e preparados para assumi-la. Tem que colocá-la no papel e fazer acontecer.
Ouça a entrevista na íntegra:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Vitor Netto (vitor.netto@rdgaucha.com.br e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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