Nos planos do presidente da Aeromot, Guilherme Cunha, está instalar uma "cidade da aviação" em Guaíba, no terreno emblemático que seria para a Ford. À coluna, ele já havia dito que iria desenterrar o sapo que está lá. Ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, o executivo detalhou o projeto, que tem investimento previsto de R$ 3 bilhões. Além da fábrica, a chamada "Aerotropole" pretende ter parque logístico; área de pesquisa e inovação; centro de treinamento e um condomínio aeronáutico. Confira trechos abaixo e ouça a íntegra da entrevista no final da coluna.
Em que etapa está o projeto?
Temos mais de 100 pessoas trabalhando nele há mais de um ano. A empresa de licenciamento está com o processo na Fepam. Não é simples, estamos falando de um aeroporto com uma fábrica, que tem toda uma complexidade para construção. A nossa preocupação, de fato, era a capacidade do terreno de absorvê-lo. Mas, de 1 a 10, a nossa perspectiva é 10. O projeto vai acontecer nos próximos meses.
Quando a primeira aeronave gaúcha vai decolar?
A construção do projeto demandará de dois a três anos no mínimo, então temos uma solução provisória para iniciar a produção. Nosso contrato com a Diamond, que é a fabricante, está vigente desde o ano passado. Temos um cronograma a cumprir. A nossa intenção é entregar a primeira aeronave no final do ano que vem ou início de 2025, independentemente da área de Guaíba, feita aqui com transferência de tecnologia gradativa. No início de 2024, a equipe vai ao Canadá para treinamento. Temos no aeroporto Salgado Filho uma operação de manutenção, engenharia, modificação de aeronaves e helicópteros. Também temos a sede administrativa, com engenharia e parte operacional de eletrônica. Temos duas bases em Porto Alegre e mais oito espalhadas no Brasil.
Como é o avião que será produzido aqui?
É uma aeronave bimotor, de sete lugares, com demanda mundial grande. É um produto já certificado, consome 60% menos querosene. No mundo, essa categoria já supera 60% de vendas. No Brasil, é 93%. Hoje, somos representantes do que vem da Áustria e do Canadá. Mas, a partir de 2025, o Brasil vai suprir América do Sul e eventualmente até Estados Unidos. Já temos mais de 50 para entregar.
Por que o projeto foi ampliado para uma cidade da aviação?
Quando iniciamos o projeto, nossa intenção era ter independência, com uma pista e a própria fábrica. Depois, entendemos que na aviação existem dois problemas, que vão aumentar. Hoje, aviação é responsável por 3% de emissão de carbono no mundo. A previsão é chegar a 18% em 2050. Pesquisa e desenvolvimento vão exigir US$ 50 bilhões até lá. O outro ponto é que a aviação cresce hoje de 4% a 6% em nível mundial de demanda, mas a formação de técnicos, engenheiros e pilotos cai de 3% a 5%. Vai colapsar. Então, não adianta ter fábrica sem estrutura perene no futuro. Aqui, vamos desenvolver tecnologia local, novos produtos. Não somente peças, mas novas aeronaves. Isso vai modificar a aviação nas próximas duas ou três décadas. Teremos uma transformação nas propulsões com a descarbonização e o uso de hidrogênio.
Quantas pessoas trabalhariam no complexo?
Na primeira etapa, com fábrica e pista, de 500 a 600 pessoas. Com o complexo todo montado, pode chegar a 5 mil pessoas.
Ouça a entrevista na íntegra:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Vitor Netto (vitor.netto@rdgaucha.com.br e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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