Rede de supermercados criada em 1990 em Concórdia (SC), o Grupo Passarela está com avanços consistentes no mercado gaúcho. Como a coluna já noticiou, a empresa comprou o supermercado da Languiru e construirá um atacarejo no campo de futebol do Lajeadense. Há outras unidades em negociação pelo presidente Alexandre Simioni, que também comanda a Associação Catarinense de Supermercados (Acats) e antecipou informações em entrevista ao podcast Nossa Economia, de GZH. A empresa entrou no Rio Grande do Sul em 2018, por Erechim, próximo de Concórdia. Depois, abriu um Via Atacadista em Bento Gonçalves, na serra gaúcha. Hoje, são cinco lojas funcionando no Rio Grande do Sul e nove em Santa Catarina. Confira trechos da entrevista abaixo e ouça a íntegra no final da coluna.
Quais são os planos para o Rio Grande do Sul?
Temos um planejamento de expansão para os próximos dois anos, no qual o Rio Grande do Sul contempla a grande maioria das lojas. Em Porto Alegre, chegaremos com uma loja grande, em frente à Fiergs, na Avenida Assis Brasil. O terreno é de uma antiga concessionária da Mercedes, com 32 mil metros quadrados. Estamos trabalhando para abrir ainda neste ano, entre final de novembro e início de dezembro.
Qual o investimento para o Rio Grande do Sul? Com capital próprio?
A loja de Porto Alegre, para equipamentos e obras, fica entre R$ 40 milhões e R$ 45 milhões. Depois, são R$ 25 milhões de mercadoria. É um investimento considerável. O nosso negócio mobiliza muito. Mais ou menos 60% buscamos no mercado e 40% é com investimento próprio. Temos uma situação bastante tranquila, segura. A nossa empresa preserva muito esses indicadores financeiros. Não fazemos nada sem ter segurança. Vem lá do meu pai, o italiano dá o passo conforme pode. A loja vai gerar até 220 empregos diretos em Porto Alegre. Vai ter algumas lojas junto, alguns serviços em espaços para locação. Vamos usá-la também como hub logístico. O nosso centro de distribuição fica em Concórdia e faremos nessa loja, pelo tamanho do terreno, um espaço na retaguarda maior para atender as unidades da Serra com fornecedores de maiores volume.
A expansão será com atacarejos?
Para 2024, temos cinco lojas projetadas, em fase de orçamento, com o início das obras para o segundo semestre. Temos Novo Hamburgo, também, em uma área que compramos no bairro Canudos. Também estamos negociando em Canoas. Dessas, quatro serão Via Atacadista e um supermercado Passarela, que será em Chapecó. O atacado é o que mais cresce, apesar de ter dado uma segurada no segundo trimestre, mas é uma situação também geral do varejo. Enxergamos um modelo de atacado que é um pouco mais completo, no qual o cliente tem açougue com atendimento e padaria. Acaba pegando todos os perfis de clientes, com preço mais atrativo. É o que tem dado certo no Via Atacadista e estamos replicando.
Atacado com serviços e perecíveis para o cliente resolver o imediato também?
Exatamente. Você atinge um público maior, a pessoa física e não só a jurídica. Temos televendas, com preços diferenciados para o pequeno comerciante, mas o foco é o consumidor final e principalmente na compra de abastecimento, para durar a semana ou o mês inteiro. O consumidor tem ido mais vezes ao supermercado, compra menos, não é mais aquele rancho de antigamente, até para aproveitar as ofertas. A participação da oferta vem crescendo muito, porque as pessoas estão buscando economia e o modelo atacarejo contempla isso. Tem dado certo, e a expansão no Rio Grande do Sul é bastante grande.
Vai ter consumidor para todos esses atacados?
No Brasil, é muito distribuído. Se formos comparar com outros países mais desenvolvidos, a concentração em poucas redes é muito maior. No Brasil, para pegar 70%, são 1,8 mil empresas. Na Europa, 70% está com cinco empresas. haver uma concentração nas redes maiores. O varejo de vizinhança, o próprio supermercado, vai ter que se especializar para o público local, que está ao redor dele, para atendê-los com mais conveniência. Os grandes vão ficar cada vez maiores. Nosso segmento é muito trabalhoso, exige muita mão de obra, uma dinâmica gigante entre comprar e o consumidor sair com o produto. Há toda uma movimentação de mercadoria, controles internos. O nosso país é muito burocrático em questões sanitárias, tributárias, trabalhistas. As pessoas vão cansando ou não têm estrutura para entregar tudo. Então, vemos uma movimentação muito grande de aquisições e fusões.
Isso ocorre em outros ramos do varejo...
Farmácias, por exemplo, é outro segmento que tem poucas grandes redes. A margem está cada vez mais apertada. Um grupo maior consegue diluir essas despesas. Quem não tiver essa envergadura acaba não ficando competitivo e tem que sair do mercado.
O Grupo Passarela é familiar?
Sim, somos em quatro irmãos. Nascemos em uma lanchonete. O "Passarela" é de uma lanchonete que tínhamos no centro de Concórdia, onde havia uma passarela. Foi um bar muito famoso no oeste de Santa Catarina. Temos também transporte, no qual meu irmão mais velho atua. Os outros três estão no supermercado. A nossa empresa está muito bem organizada. É importante a governança, os acordos. Vemos muitas empresas familiares desistindo do negócio ou quebrando. Vejo que não é o negócio, é a família que está quebrando o negócio. A nossa empresa é muito redonda nisso, jovial. Temos muita energia, dinâmica, uma velocidade grande, o que nos faz crescer em um ritmo bem bacana.
Tem diferença no consumo do gaúcho e do catarinense?
Sempre tem os produtos regionais. Pelo nosso tamanho, conseguimos regionalizar o mix para o cliente. Lá em Santa Cruz do Sul, por exemplo, tem alguns produtos típicos da cidade, o mesmo em Bento Gonçalves, Caxias do Sul e Farroupilha, na serra gaúcha. O perfil é parecido, mas muda em alguns setores, como açougue. No litoral de Santa Catarina, se consome muito carne embalada. Nós já trabalhamos com a desossa, e uma grande aposta em Porto Alegre vai ser a carne. Isso é certo ou errado? O atacado tem que vender só coisa barata? Não. Procuramos trabalhar com preço justo e mercadoria boa, com produtos de qualidade. Cada um tem um modelo. Se pegar outros atacados, trabalham com produtos de primeiro preço, mas esse não é o nosso perfil.
A família de vocês tem um pé no Rio Grande do Sul, certo?
Nossa empresa é muito próxima, eu estou toda semana, praticamente, na serra gaúcha visitando as lojas. Meu filho mora em Bento Gonçalves trabalhando na empresa. Gostamos dessa proximidade, de criar raízes com a cidade, com os meios de comunicação. Não queremos ser uma empresa de fora, mas sim da cidade. Esse é o nosso perfil. Meus avós todos saíram de Veranópolis e Nova Prata, e foram colonizando o oeste de Santa Catarina, assim como os gaúchos fazem no Brasil todo. Por isso, temos uma facilidade de nos relacionar com os gaúchos.
Ouça a entrevista na íntegra:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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