Os anúncios que a Languiru fez no final de semana mostram a tentativa da nova diretoria da cooperativa para sair de uma crise bilionária. Hoje, de acordo com o presidente Paulo Roberto Birck, a dívida da empresa passa dos R$ 1,1 bilhão. Logo que assumiu, em entrevista à Rádio Gaúcha, o executivo disse que a operação teria que encolher. A estratégia apresentada passa por fechamento de segmentos industriais a tentativas de vender operações do varejo.
— A Languiru é um Boeing com um motor pifado e outro funcionando a meia-boca. Se não conseguirmos, o impacto será grande. Estamos buscando alternativas para tentar pousá-lo — disse o presidente Birck em coletiva, em uma espécie de desabafo.
A coluna separou em pontos o que foi divulgado pela cooperativa, que tem sede em Teutônia, no Vale do Taquari. Também conversou com a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Teutônia e Westfália, Liane Brackmann. Confira abaixo.
Encerramento da suíno e bovinocultura : não será mais produzida carne suína nem de gado. Planta industrial e demais ativos serão vendidos. Os abates serão encerrados até 12 de julho no frigorífico em Poço das Antas. Cerca de 300 produtores rurais atendem a empresa nessa modalidade, além de 600 funcionários na fábrica. O objetivo é fazer o abate emergencial de parte dos animais e tentar vender os mais novos, na chamada "fase de creche".
O sindicato que representa os trabalhadores rurais está trabalhando para ajudar os produtores a encontrar outras empresas integradoras para oferecer o serviço.
— Se tudo for do jeito que for falando, se não houver recursos, esses produtores poderão perder suas atividades no início de julho. Isso nos preocupa. Estamos conversando com bancos, Fetag e integradoras para que possam absorver, provisoriamente, alguma parte desses produtores — diz a presidente Liane.
Redução da avicultura: o abate diário de aves será reduzido de cerca de 100 mil para 60 mil. Outros 15 mil frangos/dia deverão ser abatidos por meio da prestação de serviço a uma empresa parceira, em negociação. Com isso, um dos turnos será encerrado. O centro de distribuição também será fechado e vendido, e a logística acontecerá diretamente no frigorífico.
Agrocenter (agropecuárias): cinco lojas serão fechadas: a de Estrela (que já fechou), a de São Lourenço do Sul (em processo de fechamento), a de Venâncio Aires, a do shopping de Lajeado e a de Rio Pardo. Nesta última, haverá uma conversa com o prefeito da cidade para ver se há algo que possa ser feito para reverter. Outras operações, como a do bairro Canabarro, serão instaladas dentro de supermercados em formato reduzido. A única loja que será mantida com a operação atual é a do bairro Languiru, em Teutônia, a qual também funcionará como centro de distribuição. Uma das estratégias é levar vendedores a campo nas outras cidades para comercializar os produtos.
Supermercados: estão sendo negociadas para venda as lojas do bairro Alesgut (de Teutônia) e a unidade do shopping de Lajeado, que recebeu investimento de R$ 12 milhões para abrir. Se não forem comercializadas, serão fechadas. Como são lojas consideradas recentes e modernas, há expectativa de que atraiam interessados. Oito supermercados serão mantidos.
Leite: a ideia é fortalecer a parceria com a empresa Lactalis do Brasil, com unidade industrial instalada em Teutônia.
Farmácias e postos de combustíveis: serão vendidos.
Outras ações: nos próximos dias, a direção da Languiru fará rodadas de conversas com governos, instituições financeiras e até mesmo com integradoras concorrentes, como a Aurora, a Alibem e a JBS. A ideia com isso também é tentar garantir o máximo de empregos possível, mas o presidente confirmou que haverá enxugamento e demissões.
O presidente encerrou a coletiva fazendo um agradecimento aos produtores e fornecedores que "seguram as pontas" nos últimos meses:
— Se não fossem os produtores, os fornecedores, a Languiru já tinha parado em fevereiro. Estamos falando de alocamento da dívida. Vamos precisar de prazo de 15 anos para cima.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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