A situação financeira da Languiru, uma das cooperativas mais conhecidas do Rio Grande do Sul, preocupa os seus 5,8 mil associados, muitos deles agricultores. A coluna conversou com a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Teutônia e Westfália, Liane Brackmann, que já tem monitorado a situação há algumas semanas. De acordo com ela, até agora, fora alguma questão pontual, não houve atrasos de pagamentos para os agricultores, mas o ideal é que a reestruturação avance o mais rápido possível, para evitar uma reação em cadeia.
— Estão falando da possibilidade de outra cooperativa assumir alguma planta, ou então vender algum ativo. Se esse for o caso, precisa acontecer logo. Não dá para esperar um ou dois meses, para não gerar uma bola de neve e haver maiores dificuldades para pagamento. Como representantes dos agricultores, nossa preocupação no momento é com pagamentos. Há vários associados que também fizeram financiamentos altos para se adequarem ao mercado. E eles querem honrar os compromissos — disse Liane à coluna.
De acordo com ela, o sindicato quer uma reunião ainda esta semana para conseguir mais informações e dados da real situação da empresa. A cooperativa ainda não deu um retorno de data. Enquanto isso, a entidade seguirá monitorando, principalmente os pagamentos.
— Precisamos dos dados para saber, com clareza, qual a situação financeira e quanto tempo se teria para não frear todo o processo de integração, que se reflete também nos agricultores.
Liane ressaltou que os pagamentos de janeiro e fevereiro para os agricultores foram honrados, e que a entidade ainda não recebeu nenhuma informação de atraso. Agora, também irá monitorar os pagamentos da produção de leite, que começa nesta semana.
— Nos chegou que um ou outro agricultor que comercializa milho está com pagamento atrasado, por que os números são muito grandes. Mas, até agora, os pagamentos aconteceram em dia. Estamos bem atentos e conversando com todos segmentos. Queremos que a Languiru consiga superar, mas que tudo que esteja no alcance seja feito para não prejudicar os agricultores.
Após anunciar, no ano passado, uma redução do quadro de funcionários em 500 pessoas e ter comentado sobre a dificuldade, especialmente no segmento de aves e suínos, a Languiru encaminhou agora um documento aos bancos credores, já que, depois de dois anos de grandes prejuízos, o endividamento da cooperativa é um dos pontos mais preocupantes. Segundo a cooperativa, é de R$ 826,8 milhões.
No texto, ao qual a coluna teve acesso, fala em "caixa exaurido" e pagamentos atrasados já com fornecedores e prestadores de serviços. Com bancos, as quitações estavam em dia, mas avisa que "até a entrada de recursos via associação ou venda de ativos, não há qualquer possibilidade de efetuar-se pagamentos aos credores financeiros". A proposta é alongar o prazo médio da dívida por sete anos.
O comunicado, assinado pelo presidente da Languiru, diz que foi iniciada a renegociação das dívidas, a busca de outras cooperativas que queiram associar-se e o estudo para venda, até integral, da operação de aves e suínos. Atribui como motivos a alta da taxa de juro Selic, redução do poder de compra dos consumidores, estiagem e alta de insumos. Saiba mais: Com caixa exaurido e dívidas altas, cooperativa Languiru atrasa pagamentos e quer vender operações
Documento enviado pela Languiru aos bancos credores
Vídeo do presidente Dirceu Bayer
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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