O juro deve ou não ser a ferramenta para controle da inflação? A atual política monetária entende que sim. Por isso, a taxa Selic tem sido mantida em 13,75% ao ano, o que provoca críticas até agressivas do presidente Lula ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. O programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, ouviu duas opiniões sobre o tema. Confira trechos abaixo e os áudios na íntegra no final da coluna.
Economista-técnica do Dieese na Confederação dos Trabalhadores do Sistema Financeiro, Vivian Machado:
O que acha do juro no controle da inflação?
Equivocada, porque se baseia, pelo Banco Central, por uma inflação de demanda, que nós não temos. Essa taxa de juros, na verdade, promove outra inflação, que é a que temos, efetivamente. Não temos como ter uma inflação de demanda em um país onde vivemos um elevado desemprego, com milhões de pessoas passando fome, com uma economia que patina. O que vai acontecer é que mais uma vez essa taxa de juros vai promover mais inflação de custos de produção e investimento.
Quais seriam as alternativas para baixar a inflação, então?
Temos uma inflação de alimentos, que se tenha uma política de controle de estoque, talvez. Se temos um impacto na política de preço da Petrobras, vamos estudar outra alternativa para ela, principalmente porque impacta em toda a produção. O Banco Central atua para favorecer o rentismo, para favorecer o sistema financeiro e não o mercado interno e a produção. .
Economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Oscar Frank:
O que acha do juro no controle da inflação?
O juro não é a causa e sim a consequência de um problema que estamos vivendo. O Banco Central está optando pela manutenção do juro porque a inflação está muito elevada, não só aqui no Brasil, e porque o governo vem contratando novas despesas e abrindo mão de outras receitas. O fato mais emblemático foi a aprovação da PEC da Transição. Temos ainda os ataques ao Banco Central, ao juro, à meta de inflação, o que gera incerteza. Também não sabemos qual será o novo arcabouço fiscal. Como cidadão e analista econômico, quero ter juros mais baixos, é um remédio amargo para produção, investimentos, contratações, mas é o preço que pagamos por não termos consistência entre as políticas do governo. A política monetária está pisando no freio e a política fiscal está pisando no acelerador. Não tem como dar certo.
Várias entidades empresariais pedem a redução. O remédio está na dosagem correta?
O patamar de juro hoje, de acordo com os próprios exercícios que foram conduzidos pelo Banco Central, é o que vai ser suficiente para fazer com que nós tenhamos a convergência da inflação para a meta em 2024. Nós poderíamos ter um ciclo antecipado de redução de juros se nós criássemos as condições para tanto. Isso passa por controle de gastos e pela diminuição das incertezas. Neste momento, infelizmente, precisamos pagar esse preço. Alguém poderia dizer "ah, mas a gente tem um juro elevado e a inflação está teimando em permanecer em patamares elevados". Sim, de fato. Mas se o juro estivesse menor, a inflação seria potencializada. A história explica muita coisa. Lá em 2011, 2012, nós tínhamos uma inflação pressionada e optamos por mesmo assim reduzir a taxa de juros. Isso não se sustentou a médio e longo prazo. Em plena grande crise 2015, estávamos mergulhados em recessão.
Ouça as entrevistas na íntegra:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br) Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br) Leia aqui outras notícias da coluna