Como será a retomada da estatal Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), a qual terá a extinção revertida pelo governo Lula, foi tema da entrevista com o novo gestor, Augusto Cesar Gadelha Vieira, ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha:
Está certa a continuidade da Ceitec?
O governo atual, ao assumir, veio com o compromisso de tentar reverter o processo de liquidação. Agora, para tal, há, realmente, a necessidade de um estudo sobre as possibilidades de crescimento da empresa. Para isso, o governo estabeleceu um grupo de trabalho interministerial, composto por representantes de vários ministérios. A contribuição efetiva para o país deve ser representada não somente em termos financeiros de lucro, mas também fazer com que recursos humanos extremamente qualificados sejam gerados no país. Com isso, poderemos atrair empresas de todo o mundo para o setor de semicondutores e microeletrônicos. É a missão da Ceitec desde a sua origem. Ela não é apenas uma empresa para gerar produtos, mas também para formar uma competência nacional na área.
Um argumento para a extinção eram os prejuízos, o que era rebatido pelos que entendem que ela não tem foco em produção em escala, mas em desenvolvimento. Qual sua opinião?
O objetivo é que possamos também ser superavitários para, inclusive, financiar os projetos de formação de recursos humanos em pesquisa. Na Europa, uma instituição foi montada com subsídios governamentais para criar essa competência, que é fundamental na luta internacional geopolítica entre os grandes países em função da importância dos chips, que fazem parte de todos os equipamentos que usamos. São como o petróleo no início do século 20, o sangue da sociedade. Os países estão começando a acordar. O Brasil é o único da América Latina que tem um certo grau de capacidade de entender como fazer o design, que é o projeto de um chip. Essa instituição na Europa começou dentro da universidade com recurso da Bélgica e hoje financia grande parte de suas pesquisas e produção. Temos que ter muito claro que hoje em dia as indústrias de semicondutores se especializam muito em uma determinada ação da formação de semicondutor, que é um processo muito complexo. Ele, na realidade, passa por várias etapas. A grande empresa de criação de chips é a PSMC, de Taiwan, só faz isso, mas não entende o que está escrito nele ou o que faz. Então, recebe os projetos do mundo inteiro, produz e manda de volta para quem contratou. Nós temos que nos inserir nessa realidade mundial, mas o Brasil precisa desenvolver essa competência. A criação do Ceitec, apesar de não ter dado lucro específico financeiramente, atraiu indústrias para o Rio Grande do Sul, olhos internacionais para o país. Com isso, houve um ganho não direto financeiro, que é a maneira muito míope que o Ministério da Economia tentou raciocinar e fazer com que a empresa fosse liquidada.
Faltou chip de tudo que é tipo durante a pandemia. Para quais segmentos o senhor avalia que a Ceitec tem vocação para produzir semicondutores?
Nós temos a limitação tecnológica. Não podemos, por exemplo, criar chips para celulares ou para computadores, porque são processadores extremamente complexos, ou aqueles de uma dimensão pequena. Mas tem muitas outras coisas que nós podemos fazer e que já fizemos, como tags usadas para identificação veicular, o chip do passaporte, o de identificação de gado, que o pessoal chamava de chip do boi. A Ceitec tem capacidade de criar todos os processos, mesmo design até encapsulamento, como é chamada a parte final e de teste. Passa, inclusive, pelo chamado Front End, que é quando realmente colocamos o desenho na lâmina.
Colaborou Vitor Netto
Ouça a entrevista na íntegra:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
Leia aqui outras notícias da coluna