O grande destaque da fala do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, na abertura da Expodireto Cotrijal foi condenar as invasões de terra. Disse que o novo governo não compactuará com isso. A declaração vem dias depois de o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ter ocupado fazendas na Bahia e o governo federal ter proposto mediação, o que desagradou bastante os líderes do agronegócio.
O posicionamento do ministro Fávaro, então, caiu bem na feira aqui de Não-Me-Toque, já que trata de um dos maiores temores que o setor tinha com a eleição de Lula. Aliás, espera-se que o presidente da República pense igual. Por aqui, o governador Eduardo Leite referendou, afirmando que usaria forças policiais se houver invasões de terra no Rio Grande do Sul.
A manifestação contrária às invasões também foi tratada com alívio pelo presidente da Expodireto, Nei Mânica. Foi um dos dois pontos de ênfase do dirigente ao ser questionado sobre a reunião privada do ministro com entidades do agronegócio antes da abertura da feira. Mas também salientou ter sentido um canal aberto para diálogo com o governo federal.
Presidente do Sindicato da Indústria de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do Sul (Simers), Cláudio Bier estava no encontro e gostou. Por ter pouca gente, afirmou que o setor “pôde ser ouvido”. Foi pedida ao ministro a retomada de programas de financiamento para o produtor comprar equipamentos. Segundo Bier, trata-se de uma realocação de recursos que o BNDES já tem, para que sejam destinados a essa modalidade. O empresário entende que isso independe de o Banco Central começar a reduzir a taxa de juro Selic.
A falta de anúncios concretos, porém, frustrou o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag), Carlos Joel da Silva. Ele vem pressionando o governo federal para executar as medidas que a comitiva de ministros veio anunciar há quase duas semanas em Hulha Negra, no interior gaúcho. Segundo Joel, pouco dos R$ 430 milhões saiu do papel. O dirigente está preocupado com as dívidas dos agricultores após três estiagens em quatro anos. Também quer trazer milho subsidiado de fora do Estado para alimentar os animais. Já não tem suficiente em anos normais e foi a cultura que mais sofreu com a falta de chuva.
Falando em milho, o alto custo do grão preocupa imensamente produtores de aves e de suínos. Com o poder de compra do consumidor apertado, não estão conseguindo repassar para os preços. Operações estão com prejuízos especialmente nos últimos dois anos. Isso abala inclusive cooperativas, vide parte da crise financeira sofrida pela Languiru.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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