Por serem cerca de 200 pessoas e por envolver uma economia que orgulha os gaúchos, a operação que resgatou safristas de uva em condições semelhantes à escravidão segue chocando e decepcionando. O assunto não vai - e nem deve - morrer tão cedo. A expectativa é para que medidas concretas de transparência e combate sejam colocadas em prática em Bento Gonçalves, na serra gaúcha, no Rio Grande do Sul.
Enquanto isso, não dá para se "passar pano", expressão usada quando se tenta amenizar algo. Notas e discursos de que os envolvidos - das vinícolas ao mercadinho que vendia feijão a R$ 25 o quilo para os trabalhadores - não podem se apegar no "não sabia". Há um dever moral da comunidade de estar atenta. O mais grave, então, é ter cumplicidade. No caso de quem contrata o prestador de serviço, a legislação determina que o contratante saiba quem é o contratado e como trata os trabalhadores. Então, tem que saber. Do contrário, já começa descumprindo a lei que determina a responsabilidade solidária por quem atua no seu negócio, que ajuda a fazê-lo acontecer.
Também tem se falado no setor vinícola que situações assim seriam provocadas por falta de mão de obra. Trazer pessoas de fora do Estado, ok. Mas tratá-las da forma como a operação identificou que eram não é justificável. Falta de mão de obra ocorre em vários setores. Para atrair trabalhadores, não tem mágica. Paga mais, treina mais, exige menos carga tributária. A discussão tem que ser lógica e de bom senso. O produto vai custar mais? Paciência. Reduz custo de outra forma ou cobra mais do cliente, que, convenhamos, não pode consumir alegremente um produto feito por trabalhadores alimentados com comida estragada.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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