A defesa do teto de gastos e o afastamento da possibilidade de assumir a economia do governo Lula marcaram entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, com o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles. Confira trechos abaixo e a íntegra no final da coluna:
O senhor foi convidado para ser ministro da Fazenda? Aceitaria?
Não tenho planos de integrar o governo, deixei claro desde o início. Tive 13 anos de setor público e, no momento, aceitei desafios importantes no privado. Fui eleito membro do conselho global da maior empresa de criptoativos do mundo, a Binance, estou na montagem de projetos digitais e envolvido em um projeto interessantíssimo recentemente regulado pelo Ministério da Economia de certificado de sustentabilidade ambiental.
O que acha de Fernando Haddad no cargo?
Acho qualificado e com a condição fundamental da confiança de Lula. O ministro da Fazenda tem que estar totalmente alinhado com o presidente da República. Lula tem dito que gostaria de um perfil político, bem assessorado. Haddad se candidatou à presidência, ao governo de São Paulo, foi prefeito. Ele se enquadra. Agora, evidentemente, tem que equipar o ministério com técnicos qualificados que suplementem e deem as direções corretas.
Como ficará a PEC da Transição após a negociação no Congresso?
É difícil prever, porque é uma negociação com vários partidos. Acredito que algo em torno de R$ 130 bilhões (acima do teto). Está acontecendo uma negociação entre o Executivo eleito e o Congresso, o que eu acho saudável, natural. É evidente que um Executivo, principalmente que acredita fortemente na impulsão da economia pelas despesas públicas, queira já apresentar logo no primeiro ano o cumprimento das promessas eleitorais. Por outro lado, o Congresso cumpre o seu papel essencial no regime democrático, que é o contrapeso, o questionamento.
E como ficará o país nos próximos anos?
Acho que não vai depender tanto dessa PEC. O ponto será depois da posse. Existem muitas despesas desnecessárias a serem cortadas. Vou dar um exemplo: há 10 anos, foi criada uma empresa para construir o trem-bala entre o Rio de Janeiro e São Paulo, que se revelou inviável. O projeto foi abandonado, mas continua a companhia com orçamento, funcionários, prédio, eletricidade, todo tipo de custo. O próprio presidente eleito Lula já tem mencionado a ideia de fechar empresas que, palavras dele, "só dão prejuízo". Acho que essa é a próxima etapa. Aí, é hora de pensar no ajuste da casa, porque você estabiliza a economia, dá confiança e ela cresce mais. Não é importante apenas criar emprego por despesa pública, é importante criar com a economia crescendo. Isso que faz a diferença: emprego e renda gerados pelo setor privado. Quando se fala em mercado, não são os bancos na Faria Lima. Também são, mas é uma pequena parte. O padeiro de Caruaru, em Pernambuco, é mercado. Quando ele acha que vai aumentar a economia, vai vender mais pão, contrata mais funcionários, compra mais um forno financiado, e a economia cresce. O mercado são todos os empreendedores.
Precisa se rediscutir o teto de gastos?
O problema não é o teto de gastos, mas o descontrole das despesas. Ele é uma maneira de forçar a definição de prioridades, tem que ser complementado por reformas. A primeira foi a Previdenciária, que nunca teria saído se não fosse o teto de gastos. O que não está bem é essa história de fazer teto de dívida, porque a dívida é influenciada pela taxa de juro, que o Tesouro paga nos títulos. Se tem insegurança com o governo, com a economia ou com o Exterior, o juro sobe, vem inflação e estoura o teto. Vai fazer o quê? Dizer que não vai pagar o juro mais alto? O governo tem que fazer regra fiscal baseada em despesas, que é a única coisa que de fato pode controlar.
Cresce a preocupação com a taxa de juro. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sinalizou que a Selic pode voltar a subir se houver descontrole de contas públicas. O que o senhor, que foi presidente do banco, projeta?
Eu acho que o presidente do Banco Central tem absoluta razão. Se a expansão fiscal for muito grande, dependendo dos resultados dessa negociação (da PEC) e se não houver corte de despesas, a taxa de juros vai ter que subir. É fácil ela subir. É tão simples quanto isso.
Colaborou Vitor Netto
Ouça a entrevista na íntegra:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br) Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br) Leia aqui outras notícias da coluna
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